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Apesar dos múltiplos, fase otimista do S&P 500 entra no 9º ano

Lu Wang

29/12/2016 11h22

(Bloomberg) -- Os múltiplos, historicamente, são péssima referência para se descobrir quando vão acontecer os movimentos do mercado acionário. Os ciclos persistem e vender só porque a razão entre preço e lucro está alta se prova repetidamente um erro.

Mas e se a persistência começar a desafiar a história? O S&P 500 já passou 42 meses negociado perto do teto de um intervalo, a razão entre preço e lucro ajustado pelo ciclo que foi popularizada por Robert Shiller e é conhecida pela sigla CAPE.

No passado, a razão só ficou mais alta e por mais tempo duas vezes - e nos dois casos a situação culminou no colapso das bolsas, em 2000 e 2007.

Os investidores estão preocupados. Em oito semanas, aproximadamente US$ 2 trilhões foram acrescentados ao valor de mercado das empresas americanas. O embalo das cotações no índice Dow Jones só foi maior na época da bolha da internet. Os otimistas, que atualmente dominam o mercado, estão convencidos de que Donald Trump vai inaugurar um ciclo de crescimento dos lucros que vai reduzir os múltiplos.

Talvez. Mas para os lucros chegarem onde os otimistas esperam, a economia precisaria dar uma exibição de força que não se vê desde pelo menos 1937. Especificamente, nas três ocasiões em que a economia americana ficou sete anos e meio sem enfrentar uma recessão, os lucros nunca cresceram 10 por cento nesse trecho tão avançado do ciclo. E é este o ritmo que os analistas estimam para o S&P 500 em 2017.

"Só porque o múltiplo está em qualquer nível alto, não significa que não pode permanecer lá por algum tempo", disse Jerry Braakman, diretor de investimentos da First American Trust, que administra US$ 1 bilhão em Santa Ana, na Califórnia. "Mas muitos múltiplos voltam para assombrar a gente."

O padrão CAPE tomou umas rasteiras recentemente. Como gosta de dizer o gestor Laszlo Birinyi, se prestasse atenção nele, teria ficado quase totalmente de fora da atual fase de ganhos no mercado acionário americano, que é a segunda mais longa em registro.

Os múltiplos CAPE se ampliaram repetidamente desde a década de 1990, sugerindo que o indicador ficou obsoleto diante de tantas mudanças na economia - como a migração para serviços e as operações de recompra de ações.

Os múltiplos das ações aumentaram neste ano, com a disparada das cotações e a estagnação dos lucros. Segundo dados de CAPE apresentados por Shiller, da Universidade Yale, as ações hoje estão mais caras do que em 96 por cento do tempo desde 1871. O múltiplo atual, em 28, ficou pelo menos um desvio padrão acima de sua média histórica todo mês desde julho de 2013.

No entanto, os investidores não deixaram de comprar. O Dow subiu 8 por cento desde a eleição de Trump, marcando um dos maiores ganhos com a entrada de um novo presidente. A confiança de que os gastos públicos e os cortes de impostos planejados por Trump darão impulso aos lucros ajudou a ampliar o avanço do S&P 500 em 2016 para 10 por cento.

Dá para entender porque os investidores se acostumaram. Afinal, o ano foi marcado por incrível resistência dos mercados. As quedas que sucederam o Brexit e a eleição nos EUA só duraram dois dias.