Fed cumpre mandato de emprego; não de inflação: Bloomberg View
(Bloomberg) -- O fato de o Federal Reserve acreditar que atingiu seu objetivo de pleno emprego e inflação estável não significa que será capaz de acelerar o ritmo de acréscimos nos juros nos EUA.
Nesta semana, sua presidente Janet Yellen afirmou em discurso que é "justo dizer" que a economia está se movendo na direção dos objetivos do banco central e que é justificável remover gradualmente as medidas de acomodação. O Fed subiu a taxa básica de juros em 25 pontos-base em dezembro de 2015 e na mesma proporção no mês passado. Agora, as projeções da instituição sinalizam três aumentos neste ano.
E antes que alguém diga que a projeção de Yellen é a única que importa, vale lembrar que ela própria diz prever três acréscimos.
Agora, com a taxa de desemprego em 4,8 por cento (dentro da tendência central do Fed, de 4,7 a 5,0 por cento), é difícil argumentar que o mercado de trabalho não esteja a todo vapor. Contudo, a parte do mandato da instituição sobre inflação exige cuidado, porque a meta de 2 por cento não foi atingida.
De fato, os dados de inflação de novembro podem ser interpretados como um alerta. Segundo o Departamento de Comércio, o núcleo do índice de gasto pessoal que o Fed usa como referência de inflação subiu 1,7 por cento em relação a um ano antes, vindo de 1,8 por cento em outubro. A métrica também recuou em bases mensais e trimestrais.
Talvez a meta de 2 por cento seja uma intepretação restrita demais do mandato. Os integrantes do Fed não acreditam piamente que conseguirão atingir esse nível de maneira sustentável. Em vez disso, é provável que eles se considerem bem-sucedidos se atingirem o intervalo de 25 pontos-base acima ou abaixo dessa marca. Mas mesmo com essa margem de erro, o Fed parece ter ficado para trás.
A confiança do Fed de que seu mandato está sendo cumprido não depende somente dos níveis atuais de desemprego e inflação, como também das projeções para essas variáveis. Segundo o Resumo de Projeções Econômicas, as autoridades do banco central esperam atingir o intervalo da margem de erro em 2017 e a meta de 2 por cento em 2018. A base da confiança do Fed nessas projeções é o quadro atual e a expectativa futura que o desemprego fique abaixo de seu nível natural. Um trecho da última ata de política monetária se destaca:
"Os participantes geralmente interpretaram que a informação sobre inflação recebida no período entre reuniões reforça sua expectativa de que a inflação subirá para o objetivo de 2 por cento do comitê no médio prazo."
O Fed pode ficar tranquilo porque o aumento mensal de 0,2 por cento no núcleo do índice de preços ao consumidor em dezembro significa que a leitura fraca de novembro não se repetirá.
O tamanho do ciclo de aperto dependerá da evolução das previsões para desemprego e inflação. Se a expectativa para o desemprego recuar neste ano, por exemplo, é provável que os pontos medianos de projeção do Fed subam para garantir que a instituição continue cumprindo seu mandato.
A situação atual de inflação abaixo da meta não basta para convencer as autoridades de que, para fins práticos, quase cumpriram seu mandato duplo. Reconhecer isso não implica aceleração dos aumentos de juros. As medidas necessárias para manter as condições econômicas consistentes com a entrega do duplo mandato já estão embutidas nas previsões para os juros. A precisão da projeção depende do desempenho da economia neste ano.
Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.
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