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Fast Fashion europeu está arrasando lojas endividadas dos EUA

Emma Orr e Lauren Coleman-Lochner

26/01/2017 12h53

(Bloomberg) -- Quem visitar neste ano o shopping Kings Plaza, que fica no Brooklyn, em Nova York, e foi recentemente reformado, encontrará lojas Primark e Zara novinhas em folha e com mais de um andar. Nomes que não estão na lista de lojas? Marcas mais antigas e sobrecarregadas de dívidas, como J. Crew, Rue21 e True Religion.

"O fast fashion europeu", com roupas modernas que vão das passarelas às lojas em poucas semanas, tomou os EUA de assalto, e as lojas de roupa especializadas e endividadas estão entre as maiores vítimas. O modelo de negócios e o balanço dessas lojas estão em farrapos, especialmente em redes mais lentas e de menor porte cuja dívida aumentou durante aquisições alavancadas.

Isso as deixou com pouco dinheiro exatamente quando precisavam dele para comprar sistemas atualizados e para renovar constantemente as prateleiras a fim de acompanhar o ritmo de concorrentes mais novas e ágeis. O resultado foi a maior enxurrada de reestruturações e recuperações judiciais desde a Grande Recessão. E mais casos vêm por aí.

"As companhias com maior alavancagem serão as menos capazes de lidar com esses desafios e de investir o capital necessário para explorar estratégias diferentes e evoluções do modelo de negócios", disse Chris Grubb, diretor administrativo no grupo de reestruturação especializado em lojas em problemas da Greenhill & Co. "Vai continuar havendo uma pilha de casos de menor porte."

O Moody's Investors Service enumera 18 nomes do varejo e da moda na lista de "risco de crédito muito alto". Este é "o número mais alto que me lembro desde a recessão, e acho que não chegamos a esse ponto nem mesmo naquela época", disse o analista da Moody's Charles O'Shea.

Além do fast fashion, a rápida transição para as compras virtuais também prejudica as redes tradicionais, porque concorrentes como Amazon conquistam clientes com frete gratuito e a praticidade de fazer compras sem levantar do sofá.

"Os consumidores de hoje pensam diferente", disse a analista da S&P Global Ratings Helena Song. "Então, é muito fácil perder clientes, e eles nunca olham para trás."

A concorrência exacerba a crise em companhias como J. Crew Group, sem dinheiro para reagir. O risco mais imediato acomete as redes de menor porte, altamente alavancadas e, normalmente, pertencentes ao capital privado, disse Grubb, da Greenhill. J. Crew, Claire's Stores, Gymboree, Rue21 e True Religion Apparel, as cinco empresas mais em apuros da lista do S&P com perspectiva negativa, se encaixam nesse perfil, com notas de crédito com grau profundamente especulativo.

Representantes da True Religion e da Rue21 preferiram não comentar, e representantes da J. Crew, da Gymboree e da Claire's não responderam aos pedidos de comentário.

Talvez as companhias de maior porte consigam sobreviver mais tempo, porque o tamanho e o balanço delas lhes dão mais flexibilidade, mas elas também terão de enfrentar esses tempos de mudança, disse Grubb.

"Não é um problema só de balanço, é um problema operacional e é um problema fundamental no modelo de negócios de muitas dessas companhias", disse ele.

Um sinal revelador: a reluzente loja nova Primark no Kings Plaza está substituindo uma loja Sears.