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História de 'El Caballo' expõe cultura da corrupção na Argentina

Charlie Devereux

21/02/2017 14h21

(Bloomberg) -- Durante um quarto de século, um homem controlou o Rio Paraná, o poderoso Mississippi da Argentina.

Seu nome é Omar Suárez. Ao longo do Paraná, via das principais exportações do país, como soja, milho e trigo, ele é mais conhecido como El Caballo (O Cavalo), e é do tipo indomável.

Pouca coisa era movimentada pelo rio sem que Suárez, um líder sindicalista, recebesse sua parte. Para tripulações e empresas, El Caballo sintetizou a cultura da corrupção que atrasa a economia da Argentina há décadas.

Hoje, a história de El Caballo se repete, de certa forma, em todo o país. O presidente Mauricio Macri trabalha para eliminar a corrupção arraigada que há tempos impede o investimento estrangeiro. O esforço dele faz parte de uma tentativa mais ampla de romper com o doloroso passado da Argentina de equívocos econômicos, peronismo populista e calote internacional.

A tarefa é enorme. Desde que sucedeu a Cristina Kirchner, uma presidente assolada por escândalos, em 2015, Macri reduziu as tarifas comerciais e recuperou o acesso da Argentina aos mercados de capitais. Mas ele não tem conseguido materializar a rápida recuperação econômica que prometeu. Com a proximidade das eleições legislativas, 2017 pode ser um ano crucial.

Macri iniciou uma campanha para convencer os sindicatos -- atores poderosos durante gerações -- a relaxarem suas regras e abrirem mão de suas prerrogativas, protegidas ferozmente. Ele precisa de paz com os trabalhadores para evitar uma greve geral e também os rotineiros piquetes e bloqueios de estradas que travam o comércio. Os sindicalistas afirmam que a militância é necessária por causa da inflação alta, mas ela também eleva o custo da mão de obra e do transporte e desencoraja o investimento.

Com tanto em jogo, Suárez, 66, poderia parecer uma nota de rodapé. Mas sua história, exposta em documentos judiciais e entrevistas com pessoas que lidaram com ele, ressalta os desafios de Macri.

Sindicatos como o Somu, de Suárez, têm se envolvido em crimes escancarados, afirmam as autoridades. Suárez foi preso em setembro sob acusações de associação ilegal com intenção criminosa, coerção e fraude, e o Somu foi assumido pelo governo no ano passado. O advogado de Suárez, Luciano Munilla, não respondeu a três mensagens deixadas em seu escritório para comentar o caso.

O sindicato da marinha mercante de Suárez acumulou poder durante os governos Kirchner. Promotores afirmam que o sindicato recebeu milhões em troca do transporte de produtos pelo Rio Paraná, atrasando carregamentos e elevando as tarifas de transporte ao triplo da média global.

"Para todos os efeitos, era um cartel", diz Jorge Metz, atual subsecretário de portos e vias navegáveis do governo federal.

Os investigadores descobriram pelo menos nove contas bancárias no exterior em nome de Suárez: quatro delas na Suíça e as demais em Montevidéu, Assunção, Caracas e Panamá. Elas podem representar apenas uma fração do total.

A intervenção ao Somu, ordenada pela Justiça em fevereiro de 2016, foi pensada para instalar diretores interinos para normalizar suas atividades e permitir o surgimento de novos líderes. É possível que as eleições para substituir Suárez sejam realizadas apenas em abril de 2018, publicou o jornal La Nación no mês passado, citando fontes não identificadas do Ministério do Trabalho.