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Possível vitória de populista mexicano preocupa investidores

Isabella Cota e Nacha Cattan

21/03/2017 12h30

(Bloomberg) -- A calma estabelecida no trading do México corre o risco de ser perturbada.

Com funcionários da Casa Branca afirmando que estão confiantes de que poderão chegar a um acordo comercial benéfico tanto para o México quanto para os EUA, o peso mexicano recuperou mais de metade do valor perdido depois que a vitória de Donald Trump fez com que a moeda atingisse pisos recordes. Não se projetam negociações até o fim deste ano, e os investidores estão prestando atenção no próximo grande risco para o país latino-americano: uma vitória do candidato opositor Andrés Manuel López Obrador, conhecido como Amlo, na eleição presidencial.

Ele aparece em primeiro ou segundo lugar nas pesquisas iniciais, mas os investidores consideram que um teste mais confiável de suas perspectivas acontecerá na eleição de junho pelo governo do Estado do México, onde seu partido, Morena, tenta desbancar o PRI, do presidente Enrique Peña Nieto, pela primeira vez na história. Uma vitória do Morena seria um alerta para os investidores que se tornaram complacentes demais e poderia provocar uma queda de 10 por cento no peso, segundo a Nomura Holdings.

"Se um partido opositor ganhar as eleições, seria um forte sinal de mudança dos ventos políticos", escreveu Benito Berber, economista sênior da Nomura para a América Latina, em uma nota na semana passada. "Se Morena vencer a eleição do Estado do México, a probabilidade de que Amlo triunfe na eleição presidencial de 2018 aumentaria muito."

Isso poderia provocar uma forte queda do peso e a moeda poderia chegar a apenas 21 por dólar se López Obrador for o mais bem posicionado para vencer nas semanas anteriores à eleição presidencial de julho de 2018, disse Berber por e-mail.

López Obrador, 63 anos, que foi prefeito da Cidade do México e já disputou a presidência duas vezes, provocou alarme entre os investidores porque promete aumentar o gasto em previdência social e não quer permitir a participação de investidores privados em setores tradicionalmente dirigidos pelo Estado, como o petróleo.

Ele foi um dos oponentes mais destacados da histórica reforma da energia no México, que acabou com sete décadas de monopólio estatal sobre a exploração de petróleo bruto, e culpou o "neoliberalismo" pela desigualdade e pela violência desmedidas no México. A reforma da constituição foi defendida por Peña Nieto, que não pode se candidatar novamente após seis anos na presidência.

Os simpatizantes de López Obrador dizem que os investidores têm uma concepção errada sobre ele. Ele respeitaria contratos assinados por empresas privadas e apoiaria o livre comércio com os EUA, disse o assessor Alfonso Romo neste mês a jornalistas. Ele também trabalharia para diminuir a dívida e garantiria a autonomia do banco central, disse Romo.

Investidores estão menos otimistas.

"A estratégia de 'os EUA em primeiro lugar' do governo Trump reduzirá o crescimento e os investimentos no México em todos os cenários possíveis, e a estratégia em questão encorajou o candidato presidencial mexicano de extrema esquerda", escreveu Alberto Bernal, estrategista-chefe da XP Securities, em uma nota a clientes após reuniões na Cidade do México. "Uma vitória de Amlo na eleição presidencial de 2018 é, por definição, pessimista para o mercado."