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Uber deixa diversidade em segundo plano por pressa para crescer

Olivia Zaleski e Eric Newcomer

24/03/2017 11h49

(Bloomberg) -- Os esforços do Uber para contratar mais mulheres e não-brancos têm sido prejudicados por uma restrição peculiar. Os membros da equipe de recrutamento não têm acesso à informação a respeito da composição da diversidade da companhia, segundo várias pessoas com conhecimento do sistema de contratações do Uber.

O braço de recrutamento atribui a alguns membros a tarefa de focar na contratação diversificada de candidatos, uma iniciativa que recebeu a aprovação entusiasmada do CEO do Uber, Travis Kalanick. Mas a equipe descobriu que é difícil fazer o trabalho sem dados demográficos, uma forma comum de identificar as fragilidades de uma empresa e estabelecer metas de contratação, disseram as pessoas. Como muitos pares do Vale do Silício, o Uber é uma empresa obcecadamente movida a dados, na qual os recrutadores registram cada interação com os candidatos e vasculham os perfis deles nas redes sociais. A limitação aos dados sobre diversidade foi especialmente incômoda porque outras empresas de tecnologia do mesmo tamanho divulgam relatórios anuais de diversidade ao público.

A composição demográfica do Uber tem sido tema de interesse também para pessoas de fora do departamento de recrutamento. Várias engenheiras de software mulheres pediram esses dados durante anos e foram informadas que o departamento de recursos humanos não os computa. Algumas começaram a realizar cálculos próprios em uma tentativa de determinar quais gerentes pareciam mais abertos às mulheres, segundo um ex-funcionário.

Além da falta de dados, os esforços de recrutamento da empresa enfrentam a falta de foco, financiamento e liderança. Pelo menos meia dúzia de recrutadores do Uber envolvidos em iniciativas de diversidade deixaram a empresa nos últimos 18 meses. Várias dessas pessoas afirmaram que a diversidade é deixada em segundo plano frente às necessidades da empresa de contratar rapidamente.

Liane Hornsey, vice-presidente sênior de RH do Uber, disse em teleconferência com jornalistas, na terça-feira, que está trabalhando para eliminar os problemas culturais do Uber, o que inclui sua abordagem para o recrutamento. Hornsey, que entrou na empresa neste ano, disse que o Uber revisou 1.500 descrições de empregos para remover preconceitos inconscientes na linguagem, realizará treinamento para entrevistas de emprego a mulheres do campo de tecnologia e está buscando que seu painel de entrevistadores seja diverso. O Uber planeja divulgar um relatório de diversidade pela primeira vez na semana que vem.

"Estamos investindo bastante tempo na reflexão a respeito do que levará de verdade à diversidade e à inclusão", escreveu Hornsey por e-mail. "Essa iniciativa claramente é muito importante para todos nós e deverá sustentar tudo o que fazemos -- é a base de uma mudança cultural positiva."

O Uber está sob enorme pressão após acusações recentes de ser um ambiente de trabalho tóxico e sexista. Susan Fowler, ex-engenheira de software da empresa, escreveu uma postagem de blog no mês passado dizendo que seu chefe no Uber pediu para fazer sexo com ela e foi protegido pelo setor de RH. Ela também disse que as mulheres eram discriminadas dentro do setor técnico.

A gigante das caronas compartilhadas atualmente tenta reabilitar sua imagem e diminuir a insatisfação dos funcionários. A empresa contratou o ex-procurador-geral dos EUA Eric Holder para investigar as acusações de assédio sexual e a cultura da companhia. Os resultados dessa apuração deverão sair até o fim de abril e serão divulgados ao público, segundo Arianna Huffington, membro do conselho do Uber.