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Calote agora ou nunca, aconselha economista favorito de Maduro

Christine Jenkins e Nathan Crooks

30/03/2017 12h51

(Bloomberg) -- Na semana passada, Nicolás Maduro, o pressionado presidente de uma Venezuela mergulhada em crise, desviou um pouco do caminho durante um desconexo discurso de uma hora e meia direcionado a líderes empresariais em Caracas para elogiar um economista um tanto desconhecido dos EUA.

"Não sei se vocês o conhecem, mas recomendo suas análises", disse Maduro sobre Michael Hudson, professor da Universidade do Missouri especializado em temas como finanças e dívidas internacionais. "Ele é um dos maiores economistas dos EUA."

Ocorre que Hudson parece não ser fã do líder socialista. Procurado alguns dias depois, ele criticou duramente a situação econômica desde que Maduro substituiu o falecido Hugo Chávez, em 2013, afirmando que a Venezuela parece ter "entrado em um período de anarquia" tão profundo que ele não sabe se poderia ser de muita ajuda ao país se consultado. O que, aliás, não é o caso. Ele não é especialista na Venezuela, ressaltou, mas ainda assim ofereceu uma sugestão tentativa ao presidente: se o calote da dívida parecer inevitável, como acreditam muitos analistas, o melhor é acabar com isso o quanto antes.

"Se eles percebem que não poderão pagar a dívida mais tarde, eles devem pará-la agora", disse Hudson. "Você pode também manter o que tem e dizer 'é óbvio que não podemos pagar, eles nos fizeram uma dívida ruim e eles devem assumir o prejuízo."

Trata-se de uma recomendação que não parece ser muito bem aceita em Caracas. Quando o professor de Harvard Ricardo Hausmann, que é venezuelano, fez uma sugestão similar, em 2014, Maduro o chamou de "sicário financeiro" e disse que ele estava tentando derrubar seu governo.

Receoso de que o calote mergulhe a gigantesca petroleira estatal do país em problemas legais, o governo reuniu recursos para honrar os pagamentos de títulos internacionais nos últimos anos, embora a queda nas exportações de petróleo tenha mergulhado a economia em uma depressão e desencadeado uma inflação galopante e uma escassez generalizada de produtos. No mesmo discurso da semana passada em que elogiou Hudson, Maduro defendeu fervorosamente sua decisão de pagar a dívida.

"Vocês acham que estaríamos melhor em situação de calote?", questionou Maduro. "Vamos pensar no interesse nacional, na nossa terra. Continuam existindo pessoas insípidas que atacam a Venezuela por dentro e por fora."

Apesar de não ser famoso dentro ou fora dos EUA, Hudson desenvolveu uma base de seguidores nos círculos das finanças internacionais ao longo dos anos. Ele assessorou os governos da Islândia, da Letônia e da China em temas de legislação tributária e finanças, segundo seu website, e escreveu diversos livros, incluindo "J is for Junk Economics: A Guide to Reality in an Age of Deception", lançado no mês passado.

Hudson desconfia, a julgar por alguns comentários de Maduro, que foi seu livro "Killing the Host", de 2015, que colocou seu nome no radar do governo venezuelano. No livro, ele argumentou que os bancos concedem empréstimos principalmente para comprar propriedades que já foram desenvolvidas e que os lucros corporativos têm financiado recompras de ações e dividendos em vez de serem direcionados aos investimentos.

Hudson, 78, disse que nunca conversou com Maduro, que nunca teve contato com o governo e que não tem prestado muita atenção no país ultimamente. Ele viu e ouviu o suficiente dos venezuelanos, contudo, para saber que a economia é uma "verdadeira bagunça". A tarefa de corrigir a situação parece tão assustadora, de fato, que ele não tem interesse de acrescentar a função de assessor do país em sua agitada agenda, se recebesse uma proposta do tipo.

"Prefiro trabalhar com países com problemas que possam ser resolvidos", disse ele.