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Megamina na Austrália busca contratar trabalhadores baratos

Rebecca Keenan

30/03/2017 13h31

(Bloomberg) -- A mulher que se tornou a pessoa mais rica da Austrália ao desenvolver parte dos amplos depósitos de minério de ferro do país aprendeu uma lição fundamental com o último colapso das commodities - contratar trabalhadores baratos.

A bilionária Gina Rinehart está expandindo sua folha de pagamento para aumentar a produção da mina da Roy Hill Holdings no remoto outback de Pilbara, na Austrália Ocidental. Muitos dos novos funcionários recebem salários mais baixos por terem pouca ou nenhuma experiência em mineração, como Courtney Grove, 24, que estudou Veterinária na universidade. Desde o mês passado, Grove dirige um caminhão de mineração cor-de-rosa que transporta 226 toneladas de minério na mina de US$ 10 bilhões.

Procurar os chamados "verdes" que possam aprender conhecimentos básicos de mineração faz parte da iniciativa da Roy Hill para manter baixos os custos em uma era de superávits globais e para diversificar sua força de trabalho. O setor do minério de ferro foi bombardeado por três anos de queda que acabaram com os lucros e deixaram algumas empresas atoladas pagando até 200.000 dólares australianos (US$ 154.000) por ano, o dobro do salário médio na Austrália, a trabalhadores não qualificados. Os preços se recuperaram nos últimos doze meses, mas não se projeta que essa alta vá durar muito.

"Precisamos ser ágeis com nossa base de custos", disse Giles Lenz, gerente-geral de recursos humanos da Roy Hill, em entrevista por telefone, da usina de processamento da mina em Pilbara. "Não temos políticas, práticas de trabalho nem benefícios herdados que aumentem nossa base de custos."

Contratações

Após contratar 858 pessoas nos últimos 12 meses, a empresa ainda precisa de mais 650, e muitos deles serão novatos. Entre os recrutados há ex-agricultores, donos de pequenas de empresas e até jogadoras amadoras de netball com a coordenação mão-visão necessária para dirigir um caminhão ou operar máquinas pesadas. Netball é o esporte organizado feminino mais popular do país. Dez jogadoras aceitaram empregos na Roy Hill até agora, graças às buscas de representantes da empresa em torneios por todo o estado da Austrália Ocidental.

O estabelecimento de uma base de custos mais baixa em Roy Hill se dá porque a mina, assim como as rivais, já não pode depender dos preços altos. Em 2011, o minério de ferro - a matéria-prima utilizada na fabricação de aço - superava US$ 190 por tonelada na China, o principal consumidor. Por volta de 2015, ele tinha caído para menos de US$ 40 porque o crescimento da produção e a desaceleração da economia global geraram um excedente, segundo a Metal Bulletin.

A perspectiva sombria está obrigando donos de minas a descobrir como produzir mais com menos, o que inclui trazer escavadeiras automatizadas, furadeiras e caminhões, ou interromper investimentos em projetos que precisam de preços mais altos para ser rentáveis.

A Roy Hill e outros produtores também estão buscando um maior equilíbrio de gênero no setor de mineração, dominado por homens, onde até recentemente mulheres eram proibidas de trabalhar debaixo da terra em alguns países. Uma abordagem mais inclusiva expande o conjunto de contratações e pode incrementar as chances de reter funcionários ao escolher a pessoa certa.

Na Roy Hill, o fato de ter a mulher mais rica da Austrália na chefia provavelmente tenha ajudado a mudar a cultura, segundo Grove, a novata que dirige um caminhão pintado de cor-de-rosa em homenagem as mulheres com câncer de mama.

"É legal ver as meninas nas máquinas", disse ela. "Mas acho que a mineração sempre terá a mentalidade de um clube do Bolinha."