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Lições da crise reaparecem nos títulos de hipotecas comerciais

Matt Scully e Adam Tempkin

05/04/2017 13h52

(Bloomberg) -- Há apenas uma década, os investidores globais aprendiam uma dura lição sobre o perigo de confiar em classificações de risco favoráveis para os títulos de dívida.

Agora veio um lembrete. Desta vez do mercado de títulos de hipotecas de imóveis comerciais dos EUA, que movimenta US$ 528 bilhões.

Com o aumento da inadimplência nesses empréstimos, algumas agências de classificação de risco estão rebaixando notas dadas a títulos vinculados a shopping centers e prédios de escritórios, poucos anos após designarem essas notas. A DBRS no mês passado baixou a classificação AAA que havia dado a 294 títulos que pagam somente juros, após se dar conta de que havia sido muito leniente. Também em março, a Kroll Bond Rating Agency rebaixou algumas notas para uma colocação de US$ 1 bilhão em títulos emitidos em 2014, citando a fraqueza dos empréstimos no Texas com exposição aos preços de energia.

Os episódios de reversão das notas mostram como forças que causaram problemas nos mercados financeiros no passado continuam permeando Wall Street. Ninguém considera que os perigos agora sejam tão graves quanto na época do estouro do mercado de hipotecas residenciais. Porém, o modelo de negócios de classificação de risco usado naquele período ainda prevalece: os bancos que agrupam os instrumentos de dívida ainda pagam para os papéis serem classificados e podem escolher a agência que dá a maior nota usando os critérios mais flexíveis.

Tirando clientes

Gestores de recursos relatam que isso começou a acontecer alguns anos atrás no mercado de títulos atrelados a hipotecas comerciais. Em 2013 e 2014, agências de classificação de risco de menor porte, como DBRS e Kroll, tiraram clientes do triunvirato formado por S&P Global Ratings,
Moody's Investors Service e Fitch Ratings. Na ocasião, os investidores alertaram que as novatas estavam sendo excessivamente generosas em suas avaliações dos títulos de hipotecas comerciais. Um exemplo: bancos evitaram a Moody's depois que a agência exigiu mais proteção contra perdas nos instrumentos mais arriscados e decidiram contratar agências com menos exigências.

De sua parte, as agências afirmam que o aumento da concorrência desde a crise financeira de 2008 intensificou a fiscalização das notas e garantem que o modelo no qual o emissor paga funciona. Kroll e DBRS informam que os cortes de notas recentes são isolados e não indicam um problema mais amplo no mercado de imóveis comerciais ou com os critérios que utilizam.

'Consequências reais'

Os investidores já vinham expressando ceticismo em relação às agências iniciantes antes mesmo dos últimos rebaixamentos. Os preços dos títulos que classificaram a partir de 2014 caíram nos últimos dois anos e, de modo geral, são negociados com múltiplos inferiores aos de seus pares, segundo Dave Goodson, responsável por produtos securitizados da Voya Investment Management, em Atlanta.

"O impacto da busca por notas entre agências já se manifesta claramente no mercado", disse Goodson. Embora as agências precisem apresentar perspectivas distintas para qualquer operação, é problemático se os critérios diminuírem de modo geral, ele afirmou. "Podem ocorrer consequências reais no mercado a partir da competição entre agências de classificação de risco." O problema diminuiu no ano passado em parte por causa da reação dos investidores.

Há muito tempo, investidores, parlamentares e outros agentes acusam agências de classificação de risco de relaxar critérios para conquistar clientes.

A crise financeira foi alimentada pela facilidade que as agências davam para os títulos de hipotecas residenciais obterem boas notas, de acordo com a Comissão de Inquérito da Crise Financeira dos EUA.