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Investidor brasileiro vê retorno melhor em títulos no exterior

Cristiane Lucchesi, Aline Oyamada e Felipe Marques

11/05/2017 15h32

(Bloomberg) -- Alguns dos maiores investidores de dívida no Brasil estão encontrando retornos maiores nos títulos estrangeiros de empresas locais.

JPMorgan Chase & Co. e JGP Gestão de Recursos afirmam que os clientes locais têm buscado dívida corporativa menos arriscada após a pior recessão do país em um século e com isso os títulos locais ficaram caros. Isso aumentou o apelo das notas denominadas em dólares dessas mesmas empresas com grau de investimento, que muitas vezes rendem mais quando convertidas para reais e têm proteções legais melhores e maior liquidez.

"O que realmente gostamos de comprar são os títulos corporativos brasileiros em dólar no mercado externo", disse Julio Callegari, diretor de renda fixa do Brasil da JPMorgan Asset Management, em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.

Como os mercados estrangeiros são mais profundos, é mais fácil comprar grandes quantidades de títulos sem provocar um efeito maior sobre os preços, de acordo com Alexandre Muller, que administra carteiras de crédito da JGP, uma das maiores gestoras de ativos independentes no Brasil, com R$ 10 bilhões (US$ 3,1 bilhões) em investimentos.

Ele citou notas do Banco Bradesco, o segundo maior banco brasileiro por valor de mercado, como um excelente exemplo de que os títulos estrangeiros oferecem um valor melhor. A empresa tem US$ 1,1 bilhão em títulos com vencimento em 2022 que rendem 13,65 por cento quando os rendimentos são convertidos para reais, de acordo com os cálculos de Muller. Em contraste, as notas locais de maior risco do banco com vencimento em dezembro de 2020 têm um rendimento de 11,69 por cento.

O argumento a favor da dívida internacional também está sendo reforçado pelos esforços do Brasil para reduzir a taxa de juros enquanto os EUA embarcam em um aumento gradual. O Federal Reserve elevou os juros duas vezes desde o fim do ano passado e os operadores agora calculam 80 por cento de chance de haver outro aumento em junho e 40 por cento de chance de aumento em setembro, a julgar pela taxa efetiva atual dos fed funds e pela taxa de swap do índice overnight no mercado a termo.

As autoridades da maior economia da América Latina reduziram a taxa de referência em 3 pontos percentuais desde o fim de 2016, para 11,25 por cento. Traders de swaps calculam um corte para 8,5 por cento até o fim deste ano porque o Banco Central tenta estimular o crescimento depois que mais de 3.500 empresas entraram com pedido de recuperação judicial entre janeiro de 2015 e abril de 2017.

"Tivemos um processo de fuga para a qualidade", disse Callegari. "A indústria se moveu em massa para o mercado corporativo de alta qualidade e todo mundo saiu da dívida de alto rendimento."

As vendas de títulos corporativos locais somaram R$ 15 bilhões neste ano, mais do que o dobro do total no mesmo período do ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As emissões de bonds corporativos no exterior totalizam US$ 11,65 bilhões, mais de seis vezes a quantidade no mesmo período do ano passado, segundo os dados.

"O mercado de títulos corporativos internacionais está tão atraente agora que o nosso fundo de crédito premium local tem 80 por cento de seu volume total investido no exterior e convertido para reais", disse Muller.