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Lista de funcionários do Google monitora queixas na empresa

Ellen Huet e Mark Bergen

23/05/2017 12h56

(Bloomberg) -- Na maioria das empresas, se você acha que testemunhou um caso de assédio sexual, sexismo, intolerância ou racismo, só há uma forma de lidar com isso: recorrer ao departamento de Recursos Humanos. No Google, há outro modo de fazer sua queixa: mandar a reclamação a um quadro de mensagens administrado por funcionários que é transformado em um e-mail semanal.

A lista, que se chama "Yes, at Google" ("Sim, no Google", em português), é uma iniciativa dos funcionários para coletar mensagens anônimas de pessoas que trabalham no Google e em sua matriz, a Alphabet, e transmiti-las a toda a empresa, de acordo com cinco funcionários atuais que recebem os e-mails. "Yes, at Google" monitora acusações de comportamentos indesejáveis no trabalho a fim de tornar a companhia mais inclusiva, disseram os funcionários, que não quiseram ser identificados porque não estavam autorizados a falar sobre questões internas da empresa. Desde que começou, em outubro, mais de 15.000 funcionários ? 20 por cento da força de trabalho do Google ? se inscreveram, de acordo com duas dessas pessoas.

A diretoria do Google está ciente da lista. "Trabalhamos arduamente para fomentar e conservar uma cultura de respeito e inclusão", disse um porta-voz do Google em um comunicado. "Nossos funcionários têm diversas formas de levantar questões, positivas ou negativas, conosco, inclusive através de iniciativas dos funcionários em prol da transparência, como essa. Levamos as preocupações a sério e tomamos as medidas adequadas para lidar com elas."

A lista é administrada por um grupo de funcionários de distintas áreas de produtos, de acordo com uma pessoa familiarizada com a lista, embora não esteja claro quem a administra nem como ou se as mensagens são analisadas antes de serem distribuídas.

O Google, assim como outras empresas de tecnologia, enfrenta uma pressão crescente dos defensores da diversidade e da imprensa para mudar a composição racial e de gênero de sua força de trabalho, formada majoritariamente por homens brancos e asiáticos. No entanto, dentro da própria empresa, os funcionários também estão se manifestando sobre os tratamentos que consideram injustos. O e-mail semanal ? cujo título sugere que sim, essas coisas acontecem no Google, mesmo que você não queira vê-las ? é um dos meios que os funcionários encontraram para aumentar a conscientização e gerar mudanças.

A diretoria do Google não controla nem interfere no conteúdo, embora os organizadores da lista às vezes solicitem que equipes ou algum funcionário em particular respondam a um item antes da publicação, de acordo com uma pessoa familiarizada com a lista que não estava autorizada a falar sobre ela. Os executivos apresentaram a lista internamente como uma das formas em que o Google tenta fazer com que o ambiente de trabalho seja receptivo para todos os tipos de funcionários. Em fevereiro, a ex-engenheira do Uber Susan Fowler escreveu uma publicação amplamente lida em um blogue em que detalhou acusações de assédio sexual e outros maus-tratos no Uber (como resposta às acusações de Fowler, o Uber está realizando uma investigação interna sobre a cultura de seu ambiente de trabalho). Depois da publicação, um grupo de vice-presidentes do Google enviou aos funcionários um e-mail com uma lista de recursos que poderiam ajudar a evitar que coisas do tipo acontecessem no Google. A lista "Yes, at Google" foi incluída como um dos recursos.