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Opep não reduz abundância de petróleo, mas ganha mais dinheiro

Javier Blas, Angelina Rascouet e Nayla Razzouk

24/05/2017 09h47

(Bloomberg) -- À primeira vista, os cortes da Opep não funcionaram -- os estoques globais de petróleo continuam muito acima dos níveis normais. Mas a política fez a diferença onde realmente importa: encheu os cofres dos ministérios da Economia, de Bagdá a Caracas.

O fluxo ressurgente de petrodólares explica por que a Arábia Saudita e a Rússia convenceram praticamente todos os outros participantes do acordo a estenderem os cortes de produção por mais nove meses, até o fim de março de 2018.

"Não se engane, tudo se resume às receitas do petróleo", disse Bhushan Bahree, diretor sênior da consultoria IHS Markit. "Não surpreende o fato de a linha da receita dos produtores de petróleo começar com um sinal de dólar e terminar em bilhões."

A Agência Internacional de Energia, que assessora países ricos em relação à política para o petróleo, afirmou no início do mês que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem "motivação financeira para prolongar o corte à oferta". A AIE calcula que o cartel ganhou quase US$ 75 milhões extras por dia no primeiro trimestre do ano em relação ao último trimestre de 2016, apesar de coletivamente ter reduzido a produção de 33,3 milhões de barris por dia para 31,9 milhões. A consultoria IHS Markit afirmou que a Rússia, maior país de fora do cartel a participar dos cortes, também ganhou mais.

A Opep e seus aliados acreditam que podem continuar ganhando mais bombeando menos. Mesmo os países que questionam se a extensão é capaz de reequilibrar o mercado e derrubar os estoques elevados não se opõem à manutenção dos cortes. Enquanto os ministros do petróleo sentem que perderam a batalha contra os estoques elevados, os ministros da Economia estão felizes, disse um delegado da Opep.

O petróleo Brent, referencial mundial, subiu de cerca de US$ 46 para US$ 54 o barril desde o fechamento do acordo para reduzir a produção em um total de 1,8 milhão de barris por dia, nas últimas semanas do ano passado. Mas os preços do petróleo ficaram abaixo de US$ 50 o barril algumas vezes com a venda da commodity pelos investidores em meio a sinais de que o excesso global não está diminuindo.

"Sendo compassivo, alguém poderia dizer que as coisas ainda não funcionaram", disse Jan Stuart, economista-chefe de energia do Credit Suisse Group em Nova York.

Os países da Opep e de fora da Opep se reunirão na quinta-feira em Viena para aprovar o prolongamento do acordo e os delegados afirmam que a extensão de nove meses tem amplo apoio.

Quase todos os países apoiam um acordo do tipo e nenhum se opõe, disse o ministro de Energia argelino, Noureddine Boutarfa, na quarta-feira, em entrevista, em Viena, acrescentando que alguns fizeram ressalvas.

A extensão é a última tentativa dos produtores de petróleo para sustentar os preços e reanimar suas economias. As negociações em Viena serão acompanhadas de perto em outros lugares porque podem afetar de tudo, desde o preço das ações da Exxon Mobil até a moeda brasileira e os títulos soberanos da Nigéria.

"A tendência agora em relação ao acordo da produção é estender por nove meses", disse o ministro de Energia e Indústria saudita, Khalid Al-Falih, na segunda-feira. "Todos com quem conversei dentro da Opep apoiam os nove meses de cortes."