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Firmas britânicas se preparam para mais incerteza após eleições

David Hellier, Eric Pfanner e Thomas Seal

09/06/2017 14h51

(Bloomberg) -- Na noite de quinta-feira, cerca de 70 pessoas, incluindo mais de uma dezena de altos executivos das maiores empresas britânicas, se reuniram na casa do consultor de relações públicas Roland Rudd, aguardando o resultado das eleições no Reino Unido. Logo após as 22h00, as pesquisas de boca de urna indicaram que os eleitores haviam se virado contra a primeira-ministra Theresa May. O salão de festas foi tomado por um silêncio ensurdecedor.

A maioria das pesquisas de intenção de voto sugeria que May ampliaria sua maioria no Parlamento. Enquanto os convidados absorviam o choque, o presidente do conselho da BAE Systems, Roger Carr, tentava acalmar quem estava à sua volta, pedindo que focassem em suas empresas e não se preocupassem tanto com fatores fora de seu alcance.

"O panorama político pode ter mudado, mas ainda existe uma missão clara de construir um Reino Unido mais forte por meio do Brexit e além", disse Carr.

A possibilidade de outra troca de governo significa mais instabilidade para as empresas após um ano no qual precisaram lidar com a ordem de saída da União Europeia e com a substancial depreciação da libra esterlina. A moeda voltou a cair e os empresários agora vão encarar mais turbulência política, diante da perspectiva de renúncia da primeira-ministra.

"A capacidade de Theresa May de negociar o Brexit está fatalmente comprometida", disse Harry Briggs, sócio da firma de investimentos em tecnologia BGF Ventures. "Ela será motivo de piadas na Europa e no Parlamento."

Os executivos não estavam empolgados com nenhum candidato, mas se mostraram particularmente alarmados com o Partido Trabalhista porque o líder Jeremy Corbyn migrou mais à esquerda recentemente, defendendo aumentar impostos e nacionalizar de novo as ferrovias e o correio.

Embora os empresários em geral mostrassem alguma preferência pelo Partido Conservador, esse apoio foi abalado pela postura de May favorável ao chamado Brexit "duro" (um rompimento completo com a UE) e pelas propostas dela de passar o pente fino na compensação de executivos e nas aquisições corporativas e de dar aos trabalhadores uma voz mais ativa nos conselhos das empresas.

O impasse no Parlamento complica o planejamento das companhias. A depreciação da libra aumenta a pressão sobre as importadoras e contribuiu para a queda das ações de varejistas.

"Nossa maior preocupação no curto prazo é o que isso faz com a libra esterlina e o efeito que isso tem sobre a inflação e a saúde da nossa economia", declarou o presidente da Domino's Pizza Group, David Wild.

Passado o choque inicial, alguns convidados da festa de Rudd enxergaram sinais de esperança no resultado eleitoral. Como May defende um Brexit "duro", a perspectiva de um novo governo ou de uma liderança mais fraca do Partido Conservador pode levar a uma separação mais amigável da UE.

Quando o Big Ben marcou 22h00 na quinta-feira e anunciou o fechamento das urnas, empresários, consultores e executivos se reuniram no Instituto de Diretores, um grupo de relacionamentos sediado em uma mansão em estilo georgiano, na rua Pall Mall, em Londres.

Em meio a canapés e taças de vinho, a conversa era que May teve o que mereceu por conduzir uma campanha que desagradou tanto os empresários quanto as pessoas comuns.

"Ela não quis escutar", disse Julian Nettlefold, editor da Battlespace Publications, especializada em conteúdo impresso para o setor de defesa. "Isso se chama arrogância."