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Ministros tramam permanência do Reino Unido no mercado comum

Timothy Ross, Alex Morales e Svenja O'Donnell

12/06/2017 14h10

(Bloomberg) -- Alguns dos principais ministros de Theresa May estão trabalhando para suavizar os planos dela de realizar o chamado Brexit "duro" e chegaram a sugerir que o Reino Unido poderá permanecer no mercado comum e na união alfandegária da Europa.

A primeira-ministra tenta se manter no poder após a derrota nas eleições que ela própria convocou. May está tão fraca e dependente do apoio de rivais dentro e fora de seu Partido Conservador que não conseguirá impor seus planos de romper contundentemente com a União Europeia, segundo três representantes do alto escalão do governo.

Surgiram sinais de um novo embate dentro do partido quando o secretário do Brexit, David Davis, declarou que está "bem claro" que o governo quer controlar as fronteiras e leis do Reino Unido, o que significa abandonar o mercado comum e a união alfandegária ao mesmo tempo em que tenta negociar um novo acordo comercial. "Nós passamos dez meses desenhando essa estratégia", ele afirmou em entrevista à ITV.

May deixou seu gabinete praticamente intacto, mas sua fraqueza se revelou na decisão de trazer de volta como secretário do Meio Ambiente Michael Gove, que havia disputado a liderança do partido. Ela manteve como ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, outro líder da campanha pelo Brexit, cuja primeira tarefa foi negar que planeja tomar o lugar de May.

Há relatos de que o ministro das Finanças, Philip Hammond, está se posicionando como maior defensor de um Brexit "suave". Ele disse a May que só concordaria em participar do governo se ela desse a ele mais influência nas negociações sobre a saída da UE, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto que pediu anonimato porque as conversas são confidenciais.

Segundo um dos ministros, o fato de May desejar o apoio do Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte significa que ela pode ser forçada a manter o Reino Unido na união alfandegária e no mercado comum. Outro ministro argumentou que os integrantes do Partido Conservador que preferem relações próximas com a Europa vão ganhar força para lutar por um acordo mais suave com a UE, que priorize os interesses do setor privado.

Conversa com Merkel

"É bem difícil imaginar como isso produziria um Brexit duro ou uma ruptura", disse Tony Travers, professor de ciência política da London School of Economics. Na prática, o povo britânico votou por "sair da União Europeia, mas de forma que não afete suas vidas e seus empregos e nada que se relacione com eles ou seu setor", ele disse.

Após as eleições da semana passada, May declarou que iria adiante com seus planos para o Brexit e não deu indicações de que diluiria suas intenções de sair do mercado comum e da união alfandegária. No sábado, a primeira-ministra disse à chanceler alemã, Angela Merkel, que iniciaria as negociações para saída dentro de duas semanas, como previsto, e focaria em obter um "acordo recíproco" para os cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e para os cidadãos britânicos que vivem no exterior.

O resultado do Brexit depende tanto da UE quanto do governo britânico. Porém, está mais claro que o partido de May deve iniciar mais uma guerra interna, com o lado favorável à Europa sentindo que agora tem chance de mudar o rumo das decisões do governo.

"Ela precisa formar um consenso", disse em entrevista à BBC a parlamentar Anna Soubry, ex-ministra que queria manter o Reino Unido na UE. "O povo britânico rejeitou um Brexit duro."