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Passageiros mais lucrativos das aéreas no Brasil não decolam

Fabiola Moura e Esha Dey

13/06/2017 14h27

(Bloomberg) -- Os passageiros corporativos não estão participando da tímida recuperação das aéreas no Brasil.

Os executivos estão demorando a cruzar os céus de novo, embora a demanda doméstica tenha finalmente voltado a crescer em março e abril após 19 meses de contração. Os passageiros em viagens de negócios são os mais atraentes, porque tendem a pagar as tarifas de última hora, que são mais altas e geram o melhor lucro para a Latam Airlines Group e a Gol Linhas Aéreas Inteligentes.

Não se sabe quando os passageiros corporativos voltarão. Economistas sinalizam que a recuperação incipiente pode demorar para decolar depois da mais longa depressão da história do Brasil. Os recentes e perpétuos escândalos políticos que desestabilizam o País não ajudam, a perspectiva de crescimento econômico diminuiu e as companhias estão reduzindo os gastos com viagens ao fazer reservas com antecedência e recorrer às videoconferências.

"Do ponto de vista de uma companhia aérea, a política é importante porque precisamos que a demanda corporativa volte, e isso não vai acontecer com toda essa turbulência política e essa incerteza", disse Savanthi Syth, analista da Raymond James Financial, em uma entrevista por telefone.

Latam, Gol e Azul estão entre as aéreas cujo número de passageiros despencou 29% desde janeiro de 2015 e que seriam beneficiadas se os passageiros corporativos voltassem a bordo, disse Syth.

"O segmento corporativo é muito importante e só vai reativar quando as condições forem favoráveis para esse segmento", disse Ian Gillespie, um diretor da Oceanair Linhas Aéreas, conhecida como Avianca Brasil, e presidente do comitê diretivo da Star Alliance no Brasil.

Em um comunicado, a Latam afirmou que espera que as vendas corporativas aumentem em 2017, "mas não há certeza. O número de passagens vendidas diariamente para este segmento continua variando muito". A Gol afirmou que lidera o mercado de passagens para viagens corporativas, citando dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp).

Embora a crise nas viagens corporativas do Brasil tenha causado estragos no setor aéreo, pelo menos uma empresa está se beneficiando: a Oi. A gigante do setor de telecomunicações reduziu à metade seus próprios gastos com viagens empresariais nos últimos quatro anos e também se beneficia com o aumento da demanda por seus serviços de videoconferência.

Câmbio

A mais recente turbulência política derrubou os mercados no dia 18 de maio e também interrompeu o impulso do setor aéreo internacionalmente. O dólar dos EUA se valorizou 7,5% em relação ao real no dia em que surgiram acusações de corrupção contra o presidente Michel Temer. Executivos das aéreas acreditam que a recuperação pode continuar, embora mais lentamente, caso o câmbio continue relativamente estável.

"Percebemos uma redução nas solicitações de reservas, mas não observamos cancelamentos", disse o diretor comercial da Air Canada para o Brasil, Gleyson Ranieri. A companhia registrou um aumento de 26 por cento na demanda por seus voos ao país da América do Norte desde o começo do ano, em comparação com o mesmo período de 2016.

Dito isso, se o dólar se valorizar mais, o mercado vai encolher consideravelmente, disse ele.

"Ainda não vimos um sinal vermelho para o câmbio", disse Emerson Sanglard, gerente no Brasil da Copa Holdings. "É hora de analisar com cuidado o cenário atual. Há muitas opções no cenário político que poderiam ter um impacto real na economia."