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No Paquistão,lei seca força cervejaria a apostar em refrigerante

Ismail Dilawar, Faseeh Mangi e Kamran Haider

19/06/2017 14h35

(Bloomberg) -- No prédio de tijolos vermelhos da mais que centenária Murree Brewery, na cidade paquistanesa de Rawalpindi, os funcionários processam cerca de 15.000 latas de cerveja por hora nesta república islâmica em que o álcool está tecnicamente proibido.

Fundada em 1860 no alto do Himalaia Ocidental para atender a demanda dos soldados britânicos durante a era colonial, a cervejaria é a maior vendedora legal de bebidas alcoólicas do país. No papel, ela vende seus produtos alcoólicos à minoritária população não muçulmana, que representa menos de 5 por cento do total. No entanto, em privado, muitos paquistaneses também consomem bebidas alcoólicas e conseguem driblar o veto às vendas aos muçulmanos.

Mesmo assim, a Murree está começando a ampliar seu leque de refrigerantes diante do aumento da demanda, juntamente com a pressão religiosa e legal que dificulta suas vendas de bebidas alcoólicas. A cervejaria sofreu no ano passado com fechamentos de estabelecimentos que vendiam suas cervejas e destilados na província de Sindh, no sul do país. A empresa não consegue se expandir globalmente porque a exportação de bebidas alcoólicas é proibida. O uso generalizado de contrabandistas que comercializam importações ilegais também aumentou suas dificuldades.

"Estamos praticamente estagnados com nossas vendas de bebidas alcoólicas -- o motor de crescimento, o volume de negócios que estamos conseguindo vêm das bebidas não alcoólicas", disse o CEO Isphanyar Bhandara, 44, em entrevista na cervejaria, onde pôsteres exibem os produtos da Murree, incluindo um uísque de malte único, uma vodca russa com tripla destilação e a cerveja da marca Millennium. "Nos próximos três anos, planejamos expandir nossa produção."

'Difícil de vender'

A esperança é que, ao aumentar sua oferta de refrigerantes, a Murree se protegerá contra a turbulência política e religiosa que caracteriza os 70 anos de história do Paquistão. Pouco mais da metade das receitas da Murree vêm do álcool, contra 90 por cento há oito anos. Bhandara explica que o objetivo é diminuir a fatia para 10 por cento.

"Existe um enorme potencial", disse Zeeshan Afzal, chefe de pesquisa da Insight Securities, que tem sede em Karachi. A Murree não pode "se concentrar nas bebidas alcoólicas porque tem muita dificuldade para promovê-las ou comercializá-las abertamente".

A estimativa é que a renda disponível tenha mais do que dobrado desde 2010 neste país da Ásia Meridional com cerca de 200 milhões de habitantes, segundo o grupo de pesquisa de mercado Euromonitor Internacional, enquanto a economia do Paquistão também vem se expandindo a um ritmo de cerca de 5 por cento por ano desde 2013.

Contudo, também há dúvidas de que esta estratégia funcionará. O mercado de refrigerantes do Paquistão "está inundado", disse Abdul Azeem, chefe de pesquisa da Spectrum Securities, com sede em Karachi. "Existem muitas outras marcas e produtos -- será difícil."

A Murree é uma das empresas de capital aberto mais antigas do subcontinente: tinha ações negociadas na Bolsa de Valores de Calcutá já em 1902. Atualmente, a empresa negocia ações no Paquistão e o valor dos papéis se multiplicou por nove nos últimos cinco anos, período no qual as receitas da companhia quase dobraram, segundo dados compilados pela Bloomberg. As ações caíram 2,6 por cento, para 721 rúpias, no fechamento do pregão em Karachi, nesta segunda-feira.