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FMI tenta se livrar de estigma 20 anos após crise na Ásia

Enda Curran

07/07/2017 13h15

(Bloomberg) -- A foto ainda persegue o Fundo Monetário Internacional.

Em 1998, enquanto uma crise financeira arrasava a Ásia, o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, foi fotografado em pé e de braços cruzados olhando Suharto, o presidente da Indonésia, assinar um acordo de resgate impopular que exigia fortes cortes de gastos e reformas dolorosas.

A imagem, carregada de simbolismo devido ao histórico de colonialismo na região, passou a definir a resposta do FMI durante a crise -- uma abordagem sem tato que alguns culpam de ter piorado a turbulência.

"Essa fotografia fez muito estrago", disse James Boughton, ex-historiador do FMI e senior fellow do Centre for International Governance Innovation do Canadá. "Isso aconteceu porque o FMI já tinha a imagem de chefe malvado, que chegava de avião de muito longe e começava a dar ordens."

Agora, 20 anos após a eclosão da crise financeira na Ásia, o debate sobre o legado das receitas de austeridade do FMI continua. O FMI, com sede em Washington, é acusado de não ter sido suficientemente flexível para levar em conta as circunstâncias únicas e rapidamente variáveis que estavam destruindo as economias da Tailândia, da Indonésia, da Coreia do Sul e de outros países.

O conselho do FMI nos anos anteriores à crise incluiu orientações para abrir as contas de capital, o que ajudou a acumular desequilíbrios, pois muito dinheiro especulativo chegou e as empresas acumularam dívida externa.

Críticas

Os críticos dizem que os conselhos foram igualmente ruins durante a crise. O manual do FMI instou os países a elevarem as taxas de juros para recuperar reservas de moeda estrangeira e aumentar a confiança em suas moedas. Ao mesmo tempo, os governos foram encorajados a ajustar a política fiscal para abrir as portas para resgates de bancos e a reduzir os déficits de conta-corrente. Em alguns casos, a combinação entre custos de crédito mais altos e recortes orçamentários sufocou a recuperação.

Sem dúvida, o FMI mudou muito. Hoje, a instituição costuma defender um crescimento "inclusivo" -- ou seja, gasto público e redes de segurança social -- e até mesmo abrandou a postura sobre controles de capitais.

Defensores da instituição dizem que os problemas ocorridos duas décadas atrás na Ásia estavam profundamente enraizados muito antes da intervenção do FMI e afirmam que a instituição não foi a única que não viu a gestação da crise.

'Tóxico'

A economia da Ásia se transformou desde 1997-1998. Atualmente a região é a que mais contribui para o crescimento global. Em termos de paridade de poder aquisitivo, o PIB das principais economias asiáticas representa quase 38 por cento do total global na comparação com 26 por cento em 1996, segundo a Bloomberg Intelligence. Desde a crise, o PIB real per capita da Tailândia, da Indonésia e da Malásia subiu 66 por cento, 65 por cento e 55 por cento, respectivamente.

No entanto, ainda falta muito para que o FMI perca o estigma de 20 anos atrás, disse Eswar Prasad, professor sênior de política comercial da Cornell University.

"O FMI ainda é politicamente tóxico para os líderes da Ásia", disse ele.