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Ascensão e queda do trabalho remoto

Rebecca Greenfield

10/07/2017 13h41

(Bloomberg) -- No ano passado, Richard Laermer decidiu permitir que seus funcionários trabalhassem em casa regularmente. "Contratamos adultos, eles não deveriam ficar presos ao escritório cinco dias por semana", disse Laermer, dono de uma empresa de relações públicas com sede em Nova York. "Sempre entendi que você pode trabalhar em qualquer lugar, desde que faça o trabalho."

Mas ele estava enganado.

Os funcionários abusaram desse benefício, disse Laermer. Um ficava indisponível durante horas seguidas. Outro não se comunicava com os colegas o dia inteiro, o que deixou Laermer desconfiado. A última gota, disse ele, foi quando alguém se recusou a participar de uma reunião presencial porque havia planejado ir para os Hamptons. "Aquilo foi a coisa mais absurdamente irritante que ouvi em anos", disse ele.

Após dez meses, ele acabou com o benefício e agora exige que todos os funcionários estejam no escritório todos os dias.

Embora o teletrabalho, um termo geral para designar o trabalho fora do escritório tradicional, tenha crescido enormemente nos últimos 20 anos, algumas empresas estão repensando as políticas excessivamente abrangentes. A flexibilidade no trabalho continua sendo popular em muitas organizações, mas a maioria das companhias quer que os funcionários trabalhem no escritório pelo menos parte ? ou a maioria ? do tempo. Mais de 60 por cento das organizações consultadas pela Sociedade de Gestão de Recursos Humanos neste ano informaram que permitem algum tipo de teletrabalho, em contraste com 20 por cento em 1996. No entanto, há diversas modalidades de teletrabalho, e 77 por cento das organizações não permitem que os funcionários trabalhem à distância o tempo todo. A maioria dos empregadores possibilita o trabalho remoto em situações pontuais, quando alguém precisa estar em casa para receber o encanador ou esperar uma encomenda, por exemplo.

Tecnologias como os programas de bate-papo e software de colaboração viabilizaram o trabalho à distância para muita gente com cargos administrativos nas últimas décadas. Os funcionários adoram a flexibilidade e costumam avaliá-la bem nas pesquisas sobre benefícios. Em particular, os empregados que têm filhos afirmam que ela é "extremamente importante", segundo uma pesquisa de 2013 do Pew. Pesquisadores argumentaram que o trabalho fora do horário comercial tradicional poderia ajudar a reduzir a desigualdade salarial.

Na tentativa de atrair e reter funcionários ? e reduzir os custos imobiliários ?, as empresas passaram a permitir mais trabalho remoto, e os funcionários aproveitaram.

Ao mesmo tempo, o trabalho também se tornou mais grupal. Apenas 38 por cento das companhias estão organizadas "funcionalmente" hoje com trabalhadores agrupados por tipo de trabalho, segundo uma pesquisa de 2016 da Deloitte. A maioria compreende grupos colaborativos que mudam de acordo com a tarefa. A Deloitte descobriu que uma organização da Califórnia estava composta por mais de 30.000 equipes em constante mudança. "Acho que é por isso que estamos vendo o trabalho remoto voltar para o escritório", disse Erica Volini, líder de capital humano nos EUA da Deloitte. "Para trabalhar em equipes, é preciso um nível mais alto de colaboração."

Algumas organizações concluíram que as políticas mais lenientes de trabalho em casa deixavam os funcionários excessivamente isolados para esse tipo de trabalho. Essas companhias "levaram o trabalho virtual ao extremo", acrescentou Volini.

"Acho que as pessoas são dignas de confiança", disse Laermer. "Mas a coisa de trabalhar em casa tem que ser implementada de acordo com cada pessoa e não pode ser muito frequente. Isso simplesmente não funciona."