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IPO do Carrefour vai pagar a bancos maior comissão em 8 anos

Felipe Marques

10/07/2017 10h17

(Bloomberg) -- Os banqueiros de IPO, que sofreram muito tempo sem negócios no Brasil, estão de olho naquele que pode ser o seu maior contracheque em oito anos.

A oferta pública inicial deste mês para a unidade brasileira do Carrefour SA gerará quase 140 milhões de reais (US$ 42 milhões) em comissões para um grupo de bancos locais e internacionais, com base no prospecto submetido pela companhia. Isso supera os 119 milhões de reais pagos pelo BB Seguridade Participações SA por seu IPO de 11 bilhões de reais em 2013 e é o mais para uma oferta inicial maior que US$ 1 bilhão desde outubro de 2009.

A bolada do Carrefour será dividida entre o Banco Itaú BBA SA, o principal coordenador da oferta, e o resto da equipe de vendas: Bank of America Corp., Goldman Sachs Group Inc., Banco Bradesco BBI SA, Banco Santander SA, JPMorgan Chase & Co. e BNP Paribas SA.

"Este é o ano da retomada para IPOs no Brasil", disse Joelson Oliveira Sampaio, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas, em uma entrevista por telefone. "O mercado estava estagnado, com apenas um punhado de negócios desde 2014."

A turbulência política e uma recessão recorde impediram que muitas grandes empresas brasileiras se tornassem públicas, com apenas quatro IPOs concluídos de 2014 até 2016. As coisas começaram a se movimentar neste ano, com 5,82 bilhões de reais já chegando ao mercado desde janeiro, superando o total para todos três anos anteriores combinados. A operação até agora é a da companhia aérea brasileira Azul SA de US$ 572 milhões em abril.

O IPO da unidade Atacadão SA da Carrefour poderia elevar até 7,6 bilhões de reais se a companhia exercer a opção de vender ações adicionais, de acordo com o prospecto. Carrefour e Península, uma empresa de investimentos controlada pelo bilionário Abilio Diniz, planeja vender até 400 milhões de ações por 15 reais a 19 reais cada, a empresa de Boulogne-Billancourt, na França, disse em um comunicado em junho. A operação vem sendo construída há mais de três ano e a data para formação do preço das ações está marcada para 18 de julho.

Executivos da Carrefour e Itaú recusaram-se a comentar as comissões de IPO.

Resultados da Atacadão

O Brasil tem sido um fator chave para impulsionar os ganhos do Carrefour nos últimos anos, enquanto o crescimento na França diminuiu. O crescimento trimestral na receita mesmas lojas no Brasil variou de 5,6 por cento a 13 por cento desde o terceiro trimestre de 2013, crescimento significativo para uma nação afligida por uma recessão. O lucro líquido ajustado da Atacadao cresceu 53 por cento, para 1,17 bilhões de reais, em 2016.

O IPO do Carrefour, que também incluirá sua participação no Banco CSF, será o primeiro grande teste da disposição dos investidores de apostar nos mercados de ações do Brasil depois que uma crise política envolveu o presidente Michel Temer em maio e ameaçou descarrilar uma agenda de reforma destinada a tirar a maior economia da América de sua recessão mais profunda já registrada.

Nenhum IPO foi precificado desde que a nova crise eclodiu, em maio, embora pelo menos três empresas tenham apresentado planos para ofertas iniciais: a empresa de energia renovável Omega Geração SA, a resseguradora IRB Brasil Resseguros SA e a empresa farmacêutica Investimentos Biotoscana.

Embora o pagamento do Carrefour seja grande em valor nominal, fica atrás de outros IPOs recentes como uma porcentagem do tamanho do negócio. As comissões bancárias representam 2,75% da oferta da Atacadão, em comparação com 3,75% para a Azul e 4,41% para a empresa de aluguel de carros Movida Participacoes SA, conforme mostram os prospectos. As taxas de IPO do BB Seguridade foram 1,17% do total.

"Como regra geral, as tarifas bancárias raramente são mais de 4% do tamanho da oferta", disse Sampaio. "Para IPO maiores e mais complexos, como o do Carrefour, os bancos tendem a exigir um maior volume de comissões. Mas como o tamanho da oferta tende a ser maior, a quantidade relativa cai. "

A empresa de cartão de crédito Cielo SA representou o maior volume de comissões de um grande IPO brasileiro nos últimos 10 anos, com sua venda de ações de US$ 5,1 bilhões em 2006. Os banqueiros da Cielo levaram em 275 milhões de reais nas taxas. O maior IPO do Brasil, a oferta do Banco Santander Brasil de US$ 7,55 bilhões em outubro de 2009, gerou 193 milhões de reais em taxas.

A inflação também desempenha um papel nas taxas mais altas. O principal índice de preços ao consumidor do país aumentou 8,8% em 2016 após subir 9% em 2015.

--Com a colaboração de Roger Oey

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

Repórter da matéria original: Felipe Marques em São Paulo, fmarques10@bloomberg.net.