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Bitcoin enfrenta risco de separação em dois grupos

Lulu Yilun Chen e Yuji Nakamura

11/07/2017 13h49

(Bloomberg) -- É hora de os traders do bitcoin se prepararem para momentos difíceis.

A moeda criptografada, que se caracteriza por sua volatilidade e cuja disparada de 150 por cento neste ano atraiu todos, de banqueiros de Wall Street a idosas chinesas, poderia estar se encaminhando para um dos períodos mais turbulentos de sua história.

A culpa é da guerra civil do bitcoin. Após dois anos de enfrentamentos nos bastidores, grupos rivais de gênios da informática que têm um papel fundamental na manutenção do bitcoin adotarão duas atualizações de software concorrentes no fim do mês. Isso levantou a possibilidade de o bitcoin se separar em dois, um acontecimento sem precedentes que provocaria um choque no mercado de US$ 41 bilhões.

Apesar de ambas as partes terem grandes incentivos para chegar a um consenso, a falta de uma autoridade central do bitcoin dificultou um acordo. Nem mesmo os operadores profissionais que têm seguido as alternativas desta disputa sabem como isso acabará. O conselho que eles dão é se preparar para a volatilidade e estar dispostos a agir com rapidez quando surgir um resultado claro.

Debate
Por trás do conflito existe uma divisão ideológica sobre a identidade do bitcoin. A comunidade debateu com veemência se a criptomoeda deveria evoluir para atrair empresas convencionais e tornar-se mais atraente para o capital tradicional ou se deveria atuar mais como um ativo como o ouro ou como um sistema de pagamento.

As sementes do debate foram plantadas há anos: para se proteger de ataques cibernéticos, o design do bitcoin limita a quantidade de informação em sua rede, chamada blockchain. Isto restringe o número de transações que ela pode processar -- o chamado "limite do tamanho do bloco" -- justo quando a crescente popularidade da moeda está aumentando a atividade. Consequentemente, os tempos de transação e as taxas de processamento bateram recordes neste ano, limitando a capacidade do bitcoin de processar pagamentos com a mesma eficácia que serviços como Visa.

Duas escolas de pensamento surgiram para solucionar o problema. De um lado estão os mineradores, que utilizam computadores caros para verificar transações e atuam como a espinha dorsal do blockchain. Eles propõem aumentar o limite do tamanho do bloco.

Do outro lado está o Core, um grupo de desenvolvedores fundamentais para a manutenção do software à prova de erros do bitcoin. Eles insistem em que para descongestionar o blockchain, uma parte dos dados deve ser administrada fora da rede principal. Eles afirmam que isso não só reduziria o congestionamento, mas também permitiria que outros projetos, entre eles os contratos inteligentes, fossem acrescentados ao bitcoin.

Mas, levar os dados para fora do blockchain diminui a influência dos mineradores, a maioria dos quais está na China e investiu milhões em torres de servidores gigantescas. Previsivelmente, a proposta do Core, chamada SegWit, suscitou resistência dos mineradores, o mais conhecido dos quais é Wu Jihan, cofundador da Antpool, a maior organização de mineração do mundo.

Compromisso

Contudo, depois do fracasso de várias contrapropostas defendidas por Wu, no mês passado os mineradores concordaram em assumir o compromisso de apoiar a SegWit em troca de aumentar o tamanho do bloco. Wu diz que o plano aliviará o congestionamento no curto e no médio prazo e dará tempo suficiente para o Core criar uma solução de longo prazo. A proposta é conhecida como SegWit2x, que implementa a SegWit e dobra o limite de tamanho do bloco.

No entanto, a linha-dura diz que depois de mais de dois anos de disputas acirradas, uma separação permitiria que as pessoas explorassem visões diferentes, mesmo que os preços caíssem.

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

Repórteres da matéria original: Lulu Yilun Chen em Hong Kong, ychen447@bloomberg.net, Yuji Nakamura em Tóquio, ynakamura56@bloomberg.net.