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Hedge funds e traders têm opiniões diferentes sobre o petróleo

Javier Blas

25/07/2017 13h28

(Bloomberg) -- Hedge funds ainda mantêm grandes apostas pessimistas contra o petróleo e a Opep, mas, no mundo real, traders e refinarias que compram e vendem barris físicos dizem que o panorama está começando a ficar um pouco mais otimista.

"O mercado está um pouco melhor", disse em entrevista Ian Taylor, CEO da Vitol Group, o maior trader de petróleo do mundo. "Os diferenciais físicos estão melhorando no mundo inteiro."

Os diferenciais são um indicador importante do estado do mercado. Eles refletem o preço de cada tipo de petróleo bruto em comparação com uma referência, frequentemente o Brent ou o West Texas Intermediate. Quanto menor o desconto -- ou maior o prêmio --, mais forte é o mercado para a variedade em questão.

Investidores financeiros analisam acima de tudo esses dois grandes contratos de petróleo bruto, mas traders físicos têm uma visão mais ampla porque eles negociam regularmente com dezenas de variedades, da Tía Juana Light venezuelana até a Bunga Kekwa vietnamita.

Os diferenciais de preços para algumas variedades importantes de petróleo bruto, entre elas a Urals, a principal exportação da Rússia, apresentam os níveis mais fortes em três anos, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso seria encorajador para a Arábia Saudita e seus aliados se os hedge funds estivessem prestando atenção.

"A melhoria dos mercados físicos está sendo ignorada no espaço financeiro", disse Amrita Sen, chefe de analistas de petróleo da Energy Aspects, consultoria com sede em Londres. "Em outras palavras, apesar do atual fortalecimento dos diferenciais físicos, o preço principal está, no melhor dos casos, limitado a uma faixa."

Ajuste

O recente ajuste do mercado físico ajudou o Brent a superar brevemente US$ 50 por barril na semana passada, mas os preços voltaram a ficar abaixo de US$ 49 nesta terça-feira. Apesar da promessa da Arábia Saudita de reduzir muito as exportações em uma reunião de produtores em São Petersburgo, Rússia, na segunda-feira, os sinais de uma maior produção da Líbia e da Nigéria --isentas das reduções de produção -- mantiveram um tope sobre os preços.

A melhoria dos diferenciais físicos é em parte sazonal: as refinarias processam mais petróleo durante o verão, quando as pessoas pegam a estrada para sair de férias e consomem mais gasolina e diesel.

O consumo de petróleo das refinarias globais atingirá um pico de 81,4 milhões de barris por dia em agosto, frente a 80,1 milhões de barris diários em maio, antes do começo da temporada de pico, segundo a Agência Internacional de Energia. As refinarias americanas processarão o recorde de 17,5 milhões de barris, muito acima das médias dos verões de 2016 e 2015, segundo dados do governo.

Causas

No entanto, o ajuste também reflete fatores mais duradouros: após um começo de ano fraco, o crescimento da demanda global por petróleo está se fortalecendo. A AIE projeta que o consumo anual aumentará para 1,6 milhão de barris diários no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, frente a apenas 1 milhão de barris por dia no primeiro. E os cortes de produção da Organização de Países Exportadores de Petróleo, ainda que vacilantes, lentamente estão fazendo efeito em alguns cantos do mercado.

O mercado físico enfrentará uma prova após o verão. Em outubro, o consumo de petróleo bruto pelas refinarias cairá para cerca de 79,9 milhões de barris diários devido à manutenção sazonal das usinas. O número é 1,5 milhão de barris por dia a menos do que o pico de agosto, equivalente à produção conjunta da Líbia e do Equador, dois países-membros da Opep.

Se então os diferenciais do petróleo bruto se mantiverem fortes, seria um sinal de que a Opep conseguiu reequilibrar o mercado.

(Atualizações com preços do Thunder Horse no 17º parágrafo.)

--Com a colaboração de Laura Hurst Sheela Tobben Rupert Rowling e Serene Cheong