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Barões do açúcar acumulam US$ 8,2 bi inflando preços nos EUA

Justin Villamil

09/08/2017 14h58

(Bloomberg) -- Como refugiados cubanos, os Fanjul têm uma história familiar para contar. Eles fugiram da revolução. As forças de Fidel Castro confiscaram tudo o que possuíam na ilha, como interesses comerciais, casas e uma fortuna em obras de arte.

Mas eles não chegaram à Flórida em 1960 de mãos vazias.

O patriarca Alfonso Fanjul Sr., um dos mais prósperos barões do açúcar do mundo antes de Castro entrar em cena, havia acumulado ativos nos EUA. Dois anos depois, ele havia adquirido novas instalações de refino e começado a recriar o império Fanjul no exílio.

Agora, seus dois filhos mais velhos também viraram barões e estão entre os doadores políticos mais efetivos dos EUA. O governo de Donald Trump os escuta agora que busca reeditar o Nafta - com a inclusão de firmes proteções para os produtores e as usinas de açúcar dos EUA.

Eles e seus outros três irmãos dividem uma fortuna que o Bloomberg Billionaires Index avalia em US$ 8,2 bilhões, mas a divisão exata entre eles é desconhecida. Alfonso, 80, conhecido como Alfy, e José, 73, apelidado de Pepe, controlam a gigante industrial Florida Crystal e, segundo uma análise da Bloomberg, também controlam a fortuna da família. Eles não responderam aos pedidos de comentários para esta reportagem.

A dupla dividiu tanto dinheiro com políticos ao longo dos anos que possivelmente "o açúcar, contando dólar por dólar, seja a commodity mais influente dos EUA", disse Gary Hufbauer, membro sênior do Peterson Institute for International Economics e ex-vice-secretário assistente do Departamento do Tesouro. Enquanto os irmãos estiverem no negócio, "eu cairia da cadeira se surgisse qualquer abordagem que levasse a um mercado livre para o açúcar".

A história aparentemente ensinou algumas lições à família. "Uma das razões pelas quais nos envolvemos na política americana foi o que nos aconteceu em Cuba", disse Alfy Fanjul à Vanity Fair, em 2011, em uma rara entrevista. "Nós não queremos que o que aconteceu em Cuba volte a ocorrer conosco."

Divisão igualitária

Alfy, um democrata que é presidente do conselho e CEO da Florida Crystals, doou US$ 1,3 milhão ao seu partido desde 1989, segundo a organização Center for Responsive Politics. Pepe Fanjul, um republicano que é vice-presidente do conselho e presidente da empresa, doou aproximadamente o mesmo ao seu partido. Durante o ciclo eleitoral de 2016, eles e a empresa -- cujo açúcar é vendido por meio de marcas como Domino e C&H -- contribuíram com US$ 2,6 milhões para democratas e republicanos, um montante dividido de forma bastante igualitária.

"Eles entregam dinheiro a todos os que têm uma chance", disse Carl Hiaasen, romancista e colunista do Miami Herald. "Eles dão mais dinheiro para as pessoas que eles gostam, mas eles são muito inteligentes e dão dinheiro a todos."

Hiaasen é um crítico do fato de a indústria açucareira dos EUA ser uma beneficiária megaestelar do bem-estar corporativo. (Ele nega as frequentes sugestões de que os irmãos Rojo de sua novela de 1992 "Strip Tease" são uma paródia dos Fanjuls). Há uma acusação contra o setor: a de ser mantido por um sistema de cotas que restringe as importações para dar aos produtores cerca de 85 por cento das vendas nos EUA e por um programa federal de financiamento que na prática aplica um piso aos preços.

Os preços estão tão inflados que os consumidores gastam US$ 2,9 bilhões indevidos por ano, disse Tom Earley economista da consultoria Agralytica, que fez lobby contra proteções para o açúcar. Bryan Riley, analista sênior de políticas da conservadora Heritage Foundation, disse que os norte-americanos pagaram desde 2000 quase US$ 50 bilhões em preços inchados -- "tudo para beneficiar um grupo de interesse com conexões políticas".

O argumento da associação do setor American Sugar Alliance é que o sistema especial é necessário para salvar empregos e resguardar o setor contra o dumping estrangeiro. "Os críticos da política dos EUA para o açúcar normalmente gostam de confundir a questão do preço para marcar pontos políticos", disse Phillip Hayes, diretor de comunicação da associação, por e-mail.