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Cenário de gringos x Venezuela pode abrir caminho para calote

Ben Bartenstein

24/08/2017 12h38

(Bloomberg) -- Quando saiu a notícia, na quarta-feira, de que o governo dos EUA estuda impor limites à negociação de títulos emitidos pela Venezuela, a reação do mercado foi bastante contida. Porém, se um dos maiores detentores de instrumentos da dívida do país estiver certo, sanções adicionais seriam um problema maior do que os investidores esperam.

Para Jim Craige, que supervisiona aproximadamente US$ 40 bilhões na Stone Harbor Investment Partners, penalidades econômicas ? especialmente restrições às exportações de petróleo ? podem entregar ao presidente Nicolás Maduro a desculpa perfeita para dar calote.

"Se forem os gringos contra a Venezuela, talvez a disposição deles a pagar diminua", disse Craige, de Nova York. "Eles podem apontar o dedo para os EUA e dizer 'É culpa deles, então não vamos pagar'."

Que fique claro que este não é o cenário mais provável visto por Craige. Para ele, o governo venezuelano tende a sobreviver a quaisquer penalidades e pagará suas obrigações neste ano e no ano que vem. Mas entender o que pensa Maduro ficou mais importante para os investidores em um momento em que autoridades americanas preparam outra rodada de sanções para punir o que consideram tentativas do presidente venezuelano de acabar com a democracia.

Entre as medidas em estudo pelos EUA estão limites à negociação de instrumentos emitidos pelo governo e pela estatal Petróleos de Venezuela SA (PDVSA). Sanções contra Maduro e integrantes de seu governo nas últimas semanas desencadearam uma onda de vendas dos papéis, diante de temores de que o país não honrará US$ 3,5 bilhões em pagamentos sobre títulos em outubro e novembro.

O preço dos títulos recuou na quarta-feira e alguns atingiram a menor cotação em 18 meses, após a notícia da potencial restrição às negociações. Os títulos soberanos de referência, com vencimento em 2027, chegaram a 39,2 por cento do valor de face. Os papéis da PDVSA com vencimento em novembro atingiram 89 por cento do valor de face. Os instrumentos de prazo mais longo da petrolífera, com vencimento em 2037, caíram para menos de 30 por cento do valor de face. Mas não foram movimentos catastróficos.

Segundo Craige, a Venezuela ainda conta com a disposição de Rússia e China a conceder empréstimos e estará em posição de honrar os pagamentos de curto prazo independentemente de haver restrição à negociação de títulos. A Stone Harbor Investment Partners era a nona maior detentora de títulos da PDVSA e 17ª maior detentora de dívida soberana do país em 30 de junho, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

No passado, a Stone Harbor comprava títulos venezuelanos próximos do vencimento e ganhava dinheiro à medida que os preços dos papéis se aproximavam do valor de face. Isso mudou neste ano, pois as pressões internacionais tornaram essa operação mais arriscada, explicou Craige, acrescentando que sua firma agora enxerga mais oportunidade em papéis de prazo mais longo negociados atualmente perto de 30 por cento do valor de face.

Sanções ao setor petrolífero podem representar uma sentença de morte para os títulos do país, uma vez que 95 por cento dos recebimentos em moeda estrangeira da Venezuela vêm do petróleo. Sanções amplas dessa natureza não parecem prováveis agora, mas as eleições regionais em outubro podem motivar a comunidade internacional a reagir com penalidades.

Sanções ao setor que não resultem em mudança de regime tornariam "bem mais difícil" o serviço da dívida pelo governo Maduro, segundo Craige. Embora este seja o cenário menos provável na visão dele, um evento em que a oposição subisse ao poder seria interpretado favoravelmente pelo mercado.

"Repudiar toda a dívida seria suicídio" para um novo governo, disse Craige. As autoridades no caso tentariam "chegar a algum tipo de arranjo com os detentores da dívida, discutiriam o PIB e encontrariam o que funciona melhor para todos os envolvidos."

--Com a colaboração de David Papadopoulos