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Estratégia cambial mais lucrativa não se abala com o Fed

Katherine Greifeld

29/08/2017 13h58

(Bloomberg) -- Mesmo uma postura agressiva pelo banco central dos EUA talvez seja incapaz de frear o que se tornou a estratégia mais lucrativa do mercado de câmbio internacional.

O uso do dólar depreciado para financiar a compra de moedas de maior rendimento (operação conhecida como carry trade) vem gerando retorno superior em um período de relativa calmaria em outros mercados. A tática é especialmente vantajosa no caso de moedas de países emergentes, que proporcionam os maiores ganhos desde 2009, lideradas pela disparada do peso mexicano.

O dólar segue patinando diante da turbulência política e da inflação estagnada. Carry trades financiados com dólares e que atualmente aproveitam os juros mais elevados em outras regiões do mundo devem se manter atraentes, apesar da sinalização de que a taxa básica de juros vai subir nos EUA pela terceira vez neste ano, de acordo com Steve Barrow, estrategista-chefe para o G-10 do Standard Bank, em Londres.

"Os custos de juros incorridos com custos de captação maiores são compensados pela fraqueza do dólar, que eu espero que continue", disse Barrow. "O dólar não vai ficar forte o bastante para se sobrepor aos juros obtidos no carry trade."

Uma situação incomum ajuda a aumentar esses lucros: a volatilidade das moedas mais importantes tem sido maior do que a das moedas emergentes. A diferença entre a volatilidade implícita em três meses entre as moedas de países em desenvolvimento e do Grupo dos Sete é a maior desde fevereiro, segundo dados compilados pelo JPMorgan Chase. Essa volatilidade contida tem sido uma dádiva para carry trades centrados em moedas de nações emergentes, que proporcionaram retorno de 12 por cento em 2017, de acordo com índices Bloomberg. Já carry trades voltados para moedas dos integrantes do Grupo dos 10 tiveram perda aproximada de 4 por cento.

A lucratividade da operação depende da direção do dólar, que caiu cerca de 10 por cento neste ano. O clima azedou a tal ponto que a posição líquida vendida em dólar de agentes especuladores é a maior em quatro anos, de acordo com dados da CFTC. Dados decepcionantes da economia americana e ceticismo em relação à capacidade do governo do presidente Donald Trump de implementar estímulos prejudicaram o dólar, que se desvalorizou em relação a todas as outras moedas do G-10 em 2017.

Alguns investidores e analistas entendem que esse posicionamento extremo indica que o pessimismo com o dólar está exagerado.

Uma sondagem realizada pelo Bank of America neste mês concluiu que os gestores de recursos consideram a posição vendida em dólares a segunda mais concentrada dos mercados. Ainda no início deste ano, eles consideravam a posição comprada em dólares a mais concentrada.

Se o dólar continuar em queda, vai seguir atraente como moeda de financiamento enquanto o Fed aumenta os juros, disse Hans Redeker, estrategista-chefe de câmbio do Morgan Stanley.

O custo de captação em dólares dificilmente ultrapassará o retorno obtido nos mercados emergentes, uma vez que o crescimento econômico nesses países deve se acelerar para 4,8 por cento, projetou o estrategista.

"O retorno sobre o investimento nos mercados emergentes sobe mais rápido do que os juros", disse Redeker. "O carry trade permanecerá muito lucrativo."