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Análise: Por que notícia falsa espalha rápido no Facebook

Mark Buchanan

31/08/2017 14h24

(Bloomberg) — Como podemos combater as notícias falsas que infectam nossos feeds de informação e sistemas políticos? Uma nova pesquisa sugere que a educação e a tecnologia dos filtros podem ser insuficientes: a própria natureza das redes sociais poderia estar nos tornando particularmente vulneráveis.

A propagação intencional de notícias falsas tem sido culpada por influenciar grandes acontecimentos, como o referendo do Brexit e a eleição presidencial dos EUA, no ano passado. Empresas de tecnologia como Google, uma unidade da Alphabet, e Facebook vêm tentando encontrar formas de eliminá-las ou pelo menos de ajudar os usuários a detectá-las. Há quem diga que é preciso começar mais cedo, ensinando as crianças a pensar de forma crítica.

Mas a compreensão dessa epidemiologia única de notícias falsas pode não ser menos importante. Diferentemente de um vírus comum, os fornecedores de notícias falsas não precisam infectar pessoas ao acaso. Graças à riqueza de informações disponível nas redes sociais e ao advento dos anúncios direcionados, eles podem chegar diretamente às vítimas mais suscetíveis e valiosas — aquelas mais propensas a disseminar a infecção.

Esta visão surge de um estudo realizado recentemente pelos teóricos de redes Christoph Aymanns, Jakob Foerster e Co-Pierre Georg, que realizaram simulações de computador sobre como as notícias falsas se disseminam pelas redes sociais. Usando algoritmos de aprendizagem de máquina de última geração, eles analisaram como os indivíduos poderiam aprender a reconhecer notícias falsas e tentaram identificar os fatores mais importantes que contribuem para a propagação de notícias falsas.

Eles descobriram que o catalisador mais importante das notícias falsas foi a precisão com que o propagador selecionou seu público — tarefa que pode ser realizada facilmente por meio dos dados que as empresas de tecnologia coletam e vendem regularmente aos anunciantes. O segredo foi semear um grupo inicial de adeptos que compartilhariam ou comentariam sobre o item, recomendando-o aos demais por meio do Twitter ou do Facebook. As notícias falsas se espalharam mais quando foram inicialmente dirigidas a pessoas mal informadas que mostraram dificuldades para discernir se uma afirmação era verdadeira ou falsa.

Portanto, desenvolvemos de forma involuntária um ambiente de rede social inerentemente propenso às epidemias de notícias falsas. Quando os marqueteiros utilizam informações sobre hábitos de navegação, opiniões e conexões sociais para direcionar anúncios a pessoas que tenham exatamente os mesmos interesses, a tecnologia pode facilitar um intercâmbio econômico benéfico. Mas, em mãos erradas, ela se transforma em um meio de semear propaganda com precisão.

É difícil ver como essa situação poderia mudar sem alterar também o modelo de negócio das redes sociais, centrado na publicidade. Aymanns sugere que as grandes empresas de redes sociais poderiam combater as notícias falsas evitando que os anunciantes selecionem usuários com base em visões políticas ou até mesmo suspendendo todas as propagandas direcionadas durante as campanhas eleitorais. Mas talvez isso seja impossível, considerando o quanto esse tipo de publicidade se tornou importante para a economia. Outra alternativa é que os opositores das notícias falsas possam usar a mesma tecnologia de segmentação para identificar e educar as pessoas mais vulneráveis — por exemplo, oferecendo-lhes links para informações que possam ajudá-las a não cair em enganos.

O estudo oferece uma conclusão positiva: a ampla conscientização a respeito das notícias falsas tende a ser um obstáculo para o sucesso delas. As campanhas tiveram muito menos êxito quando os indivíduos que participaram do modelo aprenderam estratégias para reconhecer notícias falsas e tinham plena consciência de que provedores desse tipo de notícias estavam ativos. O resultado sugere que as campanhas de informação pública podem funcionar, como o Facebook pareceu fazer antes das eleições de maio na França.

Em outras palavras, notícias falsas são como um agente infeccioso usado como arma. A imunização por meio da educação pode ajudar, mas talvez não seja uma defesa abrangente.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Para entrar em contato com o repórter: Mark Buchanan em New York, buchanan.mark@gmail.com.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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