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Retomada automotiva começa com crédito maior e dados favoráveis

Leonardo Lara

19/09/2017 14h11

(Bloomberg) -- A esperada retomada do setor automotivo doméstico parece começar a ganhar forma no início deste segundo semestre sustentada pela maior oferta de crédito por parte dos bancos das montadoras e por indicadores econômicos favoráveis, como a queda da inflação e do desemprego. Enquanto isso, a Anfavea fala em horizonte promissor.

Dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF) mostram que os bancos das montadoras e instituições independentes liberaram R$ 54,1 bilhões entre janeiro e julho para operações de CDC e leasing, uma alta de 19% em relação ao mesmo período de 2016. 

Somente em julho, o volume de financiamentos somou R$ 8 bilhões e representa o 3º melhor mês de 2017, atrás de março e maio. Já a inadimplência nas operações de CDC para pessoas físicas caiu para 4,2% em julho, ante 4,4% em junho e 5,4% em julho do ano passado, mostramos dados da ANEF.

O consumidor brasileiro parece estar mais confiante, apesar dos números ainda serem tímidos, segundo relatório da ANEF distribuído por e-mail. "Os indicadores econômicos estão mais estáveis, o que gera maior previsibilidade e confiança nos consumidores", disse no relatório Luiz Montenegro, presidente da entidade. "Por isso, pouco a pouco as pessoas estão retornando à rede de concessionários, realizando a compra de veículos por meio de financiamentos."

"Acreditamos que as taxas de juros menores podem ajudar a acelerar a recuperação das vendas de automóveis no Brasil", disseram Victor Mizusaki, Leandro Fontanesi e Amanda Canadas, analistas do Bradesco BBI, em relatório datado de 15 de setembro.

Os dados da ANEF vêm ao encontro da expectativa das montadoras, que em 6 de setembro quase dobraram a previsão de crescimento nas vendas neste ano, de uma alta de 4% para uma expansão de 7,3%, após as vendas em agosto crescerem 17% em relação a julho e 18% na comparação com o mesmo mês de 2016.

Antonio Megale, presidente da Anfavea, disse no começo deste mês que as novas previsões "demonstram que a indústria caminha para um cenário de retomada, mesmo se considerarmos que a base de comparação de 2016 é muito baixa". "O que precisamos agora é de estabilidade no quadro econômico para que consumidores e investidores aumentem a confiança e o País como um todo entre em uma rota de aceleração da atividade econômica". "O horizonte é promissor ao enxergarmos as quedas da inflação, da taxa de juros, do nível de desemprego, do endividamento das famílias e dos índices de inadimplência", disse Megale.

Em março deste ano, Megale dizia acreditar que a "recuperação viria no segundo semestre" depois de um primeiro semestre marcado por meses indicando estabilização ou pequenos crescimentos nas vendas. 

"Embora em menor ritmo, o mercado doméstico também vem reagindo, refletindo os ganhos reais de renda, o recuo das taxas de juros, a melhora da confiança do consumidor e os saques das contas inativas do FGTS", segundo relatório de 15 de setembro do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, liderado por Fernando Honorato Barbosa.

Desde o início do ano os dados da Anfavea já sinalizavam a aposta dos fabricantes na retomada, com meses seguidos de aumento na produção, acompanhado por níveis históricos de exportações. Não havia, no entanto, uma reação das vendas internas, que esboçaram um movimento de estabilização a partir de abril. "Exportação ajuda, mas não resolve o problema" do setor, disse Megale em março.

Os dados recentes do PIB do segundo trimestre de 2017 ajudam a reforçar a visão de retomada. O consumo das famílias voltou a crescer após 9 trimestres e ajudou a conter uma desaceleração mais intensa da atividade econômica no período.

"A atividade está mostrando uma dinâmica de recuperação que solidifica o cenário de crescimento do PIB melhor do que o esperado para 2017 (0,5% para 1%), aumentando o carrego estatístico para 2018 e elevando as estimativas para o ano que vem de 2% para 3%", disse Marco Maciel, economista da BI Economics.

Para entrar em contato com o repórter: Leonardo Lara em São Paulo, llara1@bloomberg.net.