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Investidor tem retorno de 295% com derivativos de moeda virtual

Edward Robinson

27/09/2017 14h22

(Bloomberg) -- Jay Smith tem quase certeza de que haverá um crash no mercado de moedas virtuais.

O preço da bitcoin se multiplicou por seis ao longo do último ano, apesar do tombo de 25 por cento neste mês, causado pela repressão do governo chinês. Não passa uma semana sem que uma startup lance uma nova moeda digital para bancar projetos que vão desde tratamento dentário até boates de strip-tease em Las Vegas. A celebridade Paris Hilton posta para seus 16 milhões de seguidores no Twitter comentários sobre seus investimentos em moedas digitais. Se isso não é um sinal de alerta, o que seria?

No entanto, Smith, o principal negociador de moedas digitais na corretora online eToro, ignora o ruído e continua fazendo apostas, trabalhando de sua casa em Basingstoke, cidade próxima de Londres.

Todo dia ele busca motivos para comprar mais bitcoins e outras moedas digitais - que são programas de informática que usam criptografia para criar unidades artificiais de valor. Ele não tem informações suficientes para avaliar as perspectivas de Blackmoon Crypto, Steem, FirstBlood e outras moedas. Mas isso não é problema para o trader que já foi jogador profissional de videogame e sequer concluiu o ensino médio. A carteira de investimentos dele se valorizou 295 por cento nos últimos 12 meses.

"Acabei de encomendar um Tesla e nem sei dirigir", conta o britânico de 29 anos.

Transações copiadas

As apostas de Smith não se resumem ao próprio dinheiro. Mais de 9.000 investidores de varejo seguem seus conselhos e copiam as operações que ele monta na eToro, que tem licenças concedidas pelo Chipre e pela Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido. Trata-se de uma rede social de negociação de ativos na qual os usuários seguem seus traders de moedas virtuais favoritos. Em um mercado extremamente volátil e não regulamentado que pouca gente compreende, a eToro injeta mais risco.

A firma está entre as muitas que usam os chamados contratos por diferença (CFDs), que são derivativos que permitem especular sobre o preço das moedas digitais. A Plus500 oferece alavancagem de 30 para 1 nessas apostas. A XTB International, registrada em Belize, se promove em cima do prêmio como melhor provedora de negociação de moedas digitais em 2017.

Diferentemente dos contratos futuros, os CFDs não são negociados em bolsa e têm pouquíssima liquidez. Os investidores podem perder muito porque só precisam colocar a margem, ou um percentual do valor apostado. Os EUA proíbem investidores de varejo de negociar CFDs, mas os órgãos reguladores da Europa apenas começaram a avaliar o perigo que representam.

Em junho, a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos
Mercados (ESMA) revelou preocupação com os CFDs e avisou que estuda medidas para restringir seu uso. Combinar CFDs com moedas virtuais é uma irresponsabilidade, na visão de Rainer Lenz, presidente da
Finance Watch, organização para o bem público sediada em Bruxelas, e que atua como conselheiro da ESMA.

"Temos que acabar com isso", disse Lenz. "Isso é vender um instrumento sintético em cima de outro instrumento sintético. É a forma mais elevada de especulação. Não se pode fazer isso com investidores de varejo."