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Catalunha e Espanha precisam de mediação externa: Bloomberg View

Mohamed A. El-Erian

09/10/2017 12h27

(Bloomberg) -- "Quando centenas de vozes estão cantando, quem consegue ouvir uma denúncia ruim?" - Newsies.

Em vez de administrar bem a crise da Catalunha, o governo central da Espanha, inadvertidamente, deu ao mundo um exemplo do que não fazer. A reação severa ao desejo da região de uma maior autodeterminação fortaleceu os separatistas, em vez de enfraquecê-los, e contribuiu para uma violência lamentável.

Sem uma mudança de rumo em campo que permita que os dois lados participem de um diálogo construtivo sem uma lista de condições prévias, vai se tornar cada vez mais insustentável para a Europa ficar à margem e repetir que a crise é apenas uma "questão interna". A mediação de terceiros é justificável neste impasse, seja pela Europa ou como parte de uma iniciativa internacional equilibrada.

Em retrospectiva, a abordagem mais sensata para Madri, há algumas semanas, teria sido adotar uma postura diplomática e tentar chegar a um acordo sobre um referendo para a Catalunha ? da mesma forma que Westminster fez com a Escócia. É verdade que a estrutura constitucional e jurídica na Espanha é muito mais complicada do que no Reino Unido e teria exigido medidas muito cuidadosas. Mas, desde o início, o governo espanhol claramente sinalizou que não tinha interesse em fazer nenhuma concessão política para explorar uma possibilidade defendida em diversas ocasiões pela maioria dos catalães.

Depois que as autoridades catalãs convocaram unilateralmente o referendo de 1º de outubro, o governo central teve mais uma vez a oportunidade de adotar uma postura diplomática. Poderia ter permitido que a região realizasse o seu referendo e, mesmo que uma grande parte dos eleitores oferecesse um apoio retumbante à independência (uma hipótese pouco provável, considerando as pesquisas naquele momento), ter esperado para ver se os partidos políticos poderiam encontrar uma abordagem unificada e coerente. Em vez disso, Madri fez de tudo para reprimir o referendo e complicar suas consequências.

Como resultado, a situação chegou a seu atual estado, frágil e preocupante.

A imprensa tradicional e as redes sociais estão repletas de fotos dos bloqueios impostos pela polícia, avós sendo arrastadas para fora das cabines de votação, bombeiros catalães sendo atacados por policiais com cassetetes e centenas de milhares de manifestantes de ambos os lados da questão. As imagens da repressão, em particular, fortaleceram as reivindicações de independência catalã, que se baseiam na cultura, na partilha injusta de encargos financeiros e nas ameaças, por parte de Madri, de revogar os direitos de autonomia conquistados a duras penas.

A reação exagerada do governo central também deu aos separatistas uma justificativa para a baixa convocatória do referendo (menos de 50 por cento dos eleitores compareceram às urnas). Como 90 por cento deles optaram pela independência e Madri se recusa a discutir o problema sem uma série de pré-condições inaceitáveis, Carles Puigdemont, o presidente "acidental" da Generalidade da Catalunha, conseguiu a desculpa perfeita para dar continuidade a um movimento unilateral rumo à independência nesta semana.

Compreensivelmente, representantes da União Europeia e muitos políticos nacionais têm acompanhado a situação com crescente preocupação, embora enfatizem a importância da soberania constitucional espanhola. As repercussões de lidar inadequadamente com a Catalunha seriam imprevisíveis. Elas podem ser apenas mais uma distração política na Europa, que atrasa mais uma vez reformas muito necessárias, ou podem alimentar movimentos separatistas em outros lugares e também encorajar países da Europa Central e Oriental a desafiar o establishment dominado pelo Ocidente. No entanto, ao ficar à margem, a Europa ampliou inadvertidamente os erros de Madri.

Analistas da teoria dos jogos vão imediatamente considerar que esta situação não foi tratada devidamente e que está cada vez mais incoerente ? ou seja, um "jogo cooperativo" que está sendo jogado de forma não cooperativa. A desconfiança e as ameaças se tornaram a norma. Além disso, tendo em conta o que aconteceu até agora, nenhuma das partes pode reverter a situação sozinha e nenhuma pode impor uma medida ordenada e sustentável. No entanto, o status quo também é insustentável.

Ao invés do atual diálogo de surdos, um resultado melhor exigirá que as principais partes se envolvam em uma negociação viável e construtiva. Com a participação ativa de um grupo de mediadores europeus, de preferência apoiados por participantes internacionais, as autoridades catalãs e espanholas precisam se sentar na mesa de negociações com uma mente aberta e sem condições prévias. Quanto mais um processo cooperativo demorar para se estabelecer, maior será o risco de novos danos, mesmo que a ameaça de violência já seja grande demais para passar inadvertida.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.