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Maia esnoba Temer para se distanciar de sua impopularidade

Simone Iglesias e Samy Adghirni

17/10/2017 12h05

(Bloomberg) -- O presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, intensificou as críticas a Michel Temer, mas dificilmente abandonará totalmente o presidente da República, segundo seus assessores mais próximos.

Desentendimentos verbais com aliados de Temer na semana passada, incluindo a promessa de paralisar o andamento de leis prioritárias para o governo, refletem os esforços de Maia para distanciar-se e também o seu partido, o DEM, da impopularidade de Temer, de acordo com quatro pessoas com conhecimento direto da opinião dele. No entanto, o DEM continuará apoiando Temer na votação sobre a segunda denúncia criminal contra o presidente.

No início de agosto, quando a Câmara debatia acusações anteriores que poderiam ter acabado com o mandato de Temer, colegas de Maia o incentivaram a tentar substitui-lo. Ele se negou e deu uma série de entrevistas professando lealdade a Temer.

Agora, o desejo de se distanciar de Temer tem menos a ver com a ambição de ocupar o lugar dele e mais com mostrar aos eleitores que não é igual ao presidente, muito menos um aliado tão próxmo a ponto de ser contaminado pelos problemas do governo.

Também pesa o fato de o partido de Temer, o PMDB, estar envolvido em numerosos escândalos de corrupção.

"Hoje não é possível ser 100 por cento Temer", disse o deputado federal pelo Mato Grosso do Sul, Luiz Henrique Mandetta, do DEM. "No ano que vem, acho que Temer chegará às vésperas das eleições como um presidente muito solitário." Ele acrescentou que as atitudes de Maia não visam tanto romper com o presidente e sim marcar território.

Dois outros aliados de Maia, que só aceitaram falar se não fossem identificados, confirmaram que ele não tem intenção de se tornar opositor ferrenho do presidente, mas que gostaria de afirmar sua independência como presidente da Câmara.

O líder do DEM na casa, Efraim Filho, também atribuiu as atitudes de Maia ao aumento da insatisfação dentro do DEM com o PMDB. "O PMDB coloca a agenda do PMDB em primeiro lugar em detrimento da agenda do Brasil", ele declarou. "Não é por isso que nos unimos a esse governo."

Do ponto de vista do governo Temer, a postura de Maia é surpreendente e gera desconfiança, de acordo com um de seus assessores mais próximos, que não tem autorização para falar em público. Essa pessoa disse que, apesar da baixa popularidade de Temer, ele ainda comanda o maior partido do país. O PMDB provavelmente terá papel fundamental nas negociações que definirão o quadro eleitoral do ano que vem.