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Queda nos emergentes pode começar pelos pontos vulneráveis

Ksenia Galouchko e Srinivasan Sivabalan

19/10/2017 13h34

(Bloomberg) -- Somente uma notícia poderia acabar com a festa nos mercados emergentes e provavelmente viria do banco central dos EUA.

Se a retomada da inflação levar o Federal Reserve a reduzir antes do que se pensava a enormidade de dinheiro que coloca à disposição, o movimento de alta dos títulos, ações e moedas de países emergentes que começou em janeiro de 2016 estará ameaçado. Embora as gestoras de recursos não esperem uma queda acentuada tão cedo, alguns ativos são mais vulneráveis do que outros.

Fundos negociados em bolsa

Grandes beneficiários dos estímulos monetários, os fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) estão entre os ativos mais populares do mundo atualmente. A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, captou em seus fundos de perfil passivo o dobro dos fluxos que foram para os fundos de perfil ativo.

O desempenho dos ETFs está vinculado ao dos índices que acompanham e há pouco que os investidores possam fazer para se proteger de mudanças na dinâmica.

"Investidores de ETFs costumam ser altamente sensíveis aos preços", disse Guillaume Tresca, estrategista sênior para mercados emergentes do Crédit Agricole em Paris. "Eles poderiam ser os primeiros a passar pela porta de saída."

Títulos sensíveis a questões políticas

Títulos denominados em moeda forte emitidos por países onde os políticos ganham as manchetes pelos motivos mais errados podem testar a paciência dos investidores. Riscos idiossincráticos podem não provocar perdas em todos os mercados emergentes, mas seus impactos nos mercados locais podem ser brutais.

"Os títulos externos atualmente se dividem entre os que enfrentam ruído político e os menos afetados", disse Simon Quijano-Evans, estrategista da Legal & General Investment Management, em Londres. "Eles estão sendo negociado no que eu chamo de P-spread em relação a seus pares nos mercados emergentes. Brasil, África do Sul, Turquia, México e os países do Conselho de Cooperação do Golfo seriam os primeiros atingidos por uma queda induzida."

Moedas voláteis

A lira turca consistentemente se mantém na lista de ativos que tiram o sono dos investidores nos últimos anos. A Turquia é referência em política imprevisível, sua conta corrente não fecha com superávit há 15 anos e as reservas internacionais caem há quatro anos consecutivos. O aperto da política monetária para combater uma inflação de dois dígitos sustenta oportunidades de carry-trade, mas essas oportunidades também estão diminuindo.

O peso mexicano, moeda de melhor desempenho do mundo no primeiro semestre, sofreu uma das maiores perdas nos mercados emergentes desde junho. Andrés Manuel López Obrador, que se opõe a mudanças nas leis trabalhistas e prometeu aumentar os gastos públicos, é líder em intenções de voto para a eleição de julho de 2018. As conversas para renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) estão tensas e tanto os EUA como o México ameaçam sair.

A economia sul-africana pode ter saído da recessão e a inflação cedeu, mas o gasto do consumidor e o investimento industrial seguem deprimidos pela falta de confiança, o que pressiona o rand. O presidente Jacob Zuma não é querido pelo mercado e a moeda pode ser uma fatalidade.

"Países com os maiores déficits em conta corrente serão os mais vulneráveis a potenciais saídas de capital", disse Piotr Matys, estrategista do Rabobank em Londres. "Turquia e África do Sul são bons exemplos."

--Com a colaboração de Paul Wallace