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Em tempos de quinoa, sucesso de fast food depende de hambúrguer

Craig Giammona

27/10/2017 14h50

(Bloomberg) -- As guerras de fast food continuam girando em torno dos hambúrgueres.

Esqueça, por enquanto, da couve e da quinoa, as mocinhas da culinária americana. O vegetal frondoso e o grão ancestral alimentaram durante anos o discurso dominante sobre a alimentação de que mais americanos estão tentando "limpar" sua dieta, ou pelo menos dizem que estão fazendo isso, e recusando os hambúrgueres como parte desse esforço.

Tente dizer isso ao McDonald's e ao Burger King.

O McDonald's registrou vendas mesmas lojas positivas nos EUA em oito dos últimos nove trimestres. As ações da empresa controladora do Burger King estão sendo negociadas perto de um pico histórico.

Não são as saladas de couve nem as tigelas de quinoa que estão impulsionando esse fenômeno. É o humilde hambúrguer, o refrigerante barato e o eternamente popular nugget de frango.

Há apenas dois anos, o McDonald's estava atolado em sua pior queda em mais de uma década. O CEO Steve Easterbrook, encarregado de arquitetar uma recuperação quando assumiu o cargo, em março de 2015, falou de transformar a maior rede de restaurantes do mundo em uma "empresa de hambúrguer moderna e progressiva". Para muitos analistas, isso significava uma dieta mais saudável para o império construído sobre uma resposta positiva para a pergunta "você gostaria de acrescentar fritas a seu pedido?".

Só havia um problema.

"Muita gente associa alimentos saudáveis a comidas que não são muito saborosas", disse Michael Halen, analista da Bloomberg Intelligence.

Jovens e com fome

O McDonald's mudou o foco para seu cardápio mais barato e para itens alimentares básicos, ou seja, Big Macs e Chicken McNuggets. O Burger King também se concentrou em hambúrgueres e frango. A segunda maior rede de fast food dos EUA, administrada pela empresa de private equity 3G Capital, se dedicou incansavelmente ao que os políticos chamariam de base ? "homens jovens e com fome". Esta é uma estratégia testada e aprovada, mesmo que se perca em meio ao enorme discurso sobre ingredientes saudáveis e orgânicos.

O McDonald's registrou vendas mesmas lojas positivas nos EUA de 4,1 por cento no terceiro trimestre, seu melhor desempenho em quase dois anos. O Burger King também teve resultados fortes, e esse indicador fundamental avançou 4 por cento. Wendy's, a terceira maior rede de hambúrgueres dos EUA, informará os resultados financeiros do terceiro trimestre na próxima semana. As vendas mesmas lojas subiram em cada um dos últimos cinco anos.

Esses resultados chegam em um momento de crescimento relativamente estagnado no setor, o que significa que os dois gigantes do hambúrguer estão levando o que é conhecido na indústria como "a fatia do estômago". A NPD Group estima que as visitas aos restaurantes de fast food terminarão 2017 quase iguais às do ano passado, e projeta-se um resultado semelhante em 2018. O único crescimento vem do aumento de preços do cardápio, de acordo com a empresa de pesquisa.

Embora muito se fale sobre uma alimentação saudável, os americanos continuam gostando de um hambúrguer suculento.

"As grandes massas não estão mudando rapidamente seus hábitos de alimentação nem passando a comer exclusivamente alimentos saudáveis", disse Dennis Lombardi, que dirige a Insight Dynamics, uma empresa de consultoria para restaurantes. "Se eu fosse um trabalhador da construção, eu não estaria preocupado com algumas centenas de calorias extras."