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'Gunsmoke' explica por que AT&T lutará pela Time Warner

Scott Moritz

17/11/2017 14h05

(Bloomberg) -- Randall Stephenson não pretende vender troféus como a CNN para que o acordo de seus sonhos, de US$ 85 bilhões, seja aprovado em Washington. Pergunte-lhe por que e ele explicará seus argumentos com o seriado "Gunsmoke", um dos mais longos da televisão nos EUA.

Stephenson, CEO da AT&T e aspirante ao cargo máximo na Time Warner, conta uma história sobre o canal de cabo Starz. Segundo Stephenson, o Starz tentou usar a programação original como moeda de troca nas negociações contratuais com a DirecTV, gabando-se de "Power" e de outros programas novos, sem nem mencionar o faroeste que vinha sendo transmitido há 42 anos.

"Eles não sabiam que o conteúdo mais visto eram os episódios antigos de 'Gunsmoke'", disse Stephenson recentemente. Um porta-voz do Starz observou que "Power" atrai um grupo demográfico mais jovem e urbano.

A questão é que a DirecTV estava bem ciente da popularidade duradoura do delegado Matt Dillon e é por causa da influência por trás dessa informação que Stephenson está tão entusiasmado em adquirir a totalidade da Time Warner. A provedora de TV por satélite sabia disso porque pode utilizar os dados que sua matriz AT&T acumulou monitorando os hábitos de mais de 100 milhões de clientes de televisão, internet e serviços wireless.

Esse tipo de informação vale ouro. Combinada com o alcance publicitário da programação da Time Warner, incluindo Turner Sports e HBO, seria explosivamente lucrativa, na opinião de Stephenson. Mas ele não poderá aproveitar isso se os reguladores antitruste dos EUA insistirem em que ele abra mão de algumas propriedades -- seja a DirecTV ou a divisão Turner Broadcasting, da Time Warner, que possui CNN, TBS, TNT, Cartoon Network e dezenas de outros canais.

Stephenson disse que não fará isso. A AT&T está indo à luta, fazendo pressão para defender a união em Capitol Hill e tendo contratado Dan Petrocelli, que teve clientes como a Walt Disney e o presidente dos EUA, Donald Trump, para representar as empresas se o caso antitruste for a julgamento. Também está destacando a intensa aversão de Trump pela CNN para insinuar que há política em jogo, segundo pessoas a par do assunto.

A Time Warner, intacta, seria um prêmio tão grande que a AT&T vai lutar por ela no tribunal, disse Jan Dawson, analista da Jackdaw Research. Em poucas palavras, "eles precisam possuir conteúdo".

O Departamento de Justiça dos EUA está pressionando a AT&T a aceitar desinvestimentos, segundo pessoas com conhecimento da situação. Elas disseram que o órgão está preocupado com o poder exercido pela AT&T, a maior distribuidora de TV paga no país com DirecTV e U-verse.

A mágica da fusão viria da publicidade extremamente precisa -- em todos os programas, de "Anderson Cooper 360º" e "The Big Bang Theory" aos jogos da National Basketball Association (NBA) -- que seria possível com o conjunto de estatísticas da AT&T.

"A AT&T não vislumbra essa fusão como uma oportunidade para criar um novo 'Gunsmoke', mas você verá mais propagandas direcionadas em 'Gunsmoke'", disse Jennifer Holt, professora de mídia da Universidade da Califórnia em Santa Barbara. "Eles estão tentando se reinventar como uma gigantesca rede de publicidade."

--Com a colaboração de Alex Sherman Gerry Smith Todd Shields e Jacqueline Simmons