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Caso de assédio dá destaque à secretária de Gênero da França

Gregory Viscusi

24/11/2017 13h52

(Bloomberg) -- Harvey Weinstein colocou Marlène Schiappa no centro das atenções na França.

A secretária de Estado de Igualdade de Gênero da França, de 35 anos, ? que nem sequer é ministra ? foi um dos quatro membros do governo escolhidos para falar quando o movimento político do presidente Emmanuel Macron realizou seu primeiro congresso, em 18 de novembro. Os outros escolhidos foram o primeiro-ministro Édouard Philippe, o ministro do Interior Gérard Collomb, que foi prefeito de Lyon, a cidade anfitriã, durante 16 anos, e Christophe Castaner, o novo presidente de seu partido, A República em Marcha.

A decisão de chamar a atenção para Schiappa teve como objetivo mostrar que Macron está comprometido com as mulheres. No sábado, o presidente de 39 anos fará um discurso sobre o combate à violência contra as mulheres, um assunto que dominou a cobertura jornalística depois que denúncias de crimes sexuais atribuídos ao produtor cinematográfico norte-americano Harvey Weinstein encorajaram mulheres nos EUA, na França e em todo o mundo a denunciar os abusos que elas sofreram em diversos campos, como na indústria do entretenimento, dos esportes e até na política.

Macron "tornou a igualdade dos sexos um dos principais objetivos de sua presidência", disse Schiappa, em entrevista concedida nesta semana durante uma conferência sobre violência sexual no Ministério francês da Saúde, em Paris.

Mamãe trabalha

Schiappa, que tem duas filhas, contribuiu para alguns dos objetivos de Macron quando ele estava formando seu governo após ter sido eleito em maio: que metade do gabinete fosse composta por mulheres e que alguns não-políticos fossem nomeados. Ela é a fundadora de "Maman travaille", ou "Mamãe trabalha", uma associação que começou como um blog para fomentar medidas para ajudar pais que trabalham a cuidar dos filhos. Ela também é autora de vários romances e de livros de não ficção.

Mas Schiappa tem predecessoras difíceis de igualar. A França teve mulheres fortes em sua história que lutaram pela igualdade de gênero: Simone Veil, ministra de Justiça e Saúde nos anos 1960 e 1980, conquistou o direito de adoção para as mulheres e, ainda mais importante, legalizou o aborto. Yvette Roudy, ministra de Direitos da Mulher no primeiro governo de François Mitterrand, entre 1981 e 1986, conseguiu a aprovação de leis sobre a igualdade no ambiente de trabalho e incluiu o aborto no sistema de saúde estatal.

Por sua vez, Schiappa, apesar de seu estilo audaz e de se expressar de forma coloquial, raramente foi notícia nos primeiros meses do governo de Macron. E, nas ocasiões em que ela chegou às manchetes, foi por tropeços, como quando teve de voltar atrás na promessa de permitir, em breve, o acesso à reprodução medicamente assistida para todas as mulheres, e não apenas para os casais, ou quando alguns apontaram posições que ela havia assumido anos antes de entrar no governo, como a oposição às leis francesas que proíbem o uso de lenços muçulmanos nas escolas.

Tudo isso mudou quando o caso de Weinstein surgiu no início de outubro e colocou as questões de gênero na primeira página dos jornais. O equivalente francês da campanha #MeToo dos EUA é #Balancetonporc ("denuncie seu porco"). Seu site reuniu mais de 1.900 denúncias de abuso que expuseram homens de setores como o entretenimento e a política e até do âmbito acadêmico.