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Herdeiro do café se torna bilionário com apostas bem-sucedidas

Tom Metcalf

30/11/2017 13h44

(Bloomberg) -- Quando Gordon Gund passou a controlar a fortuna deixada por seu pai, era improvável que ele fizesse algo além de desfrutar da herança.

Mas Gund, 78, não é um herdeiro comum. Ele começou a investir na década de 1970, por volta da época em que ficou cego. Ele comprou ações do time de basquete Cleveland Cavaliers, da empresa de biotecnologia Gilead Sciences e da Align Tecnology, cujos aparelhos de plástico transparente foram adotados por pacientes que buscam endireitar dentes tortos sem os arames e bráquetes metálicos dos aparelhos tradicionais.

A participação dele na Align, avaliada em US$ 29 milhões na abertura de capital da empresa em 2001, agora vale US$ 1,7 bilhão, e o patrimônio líquido de Gund chegou a pelo menos US$ 2,3 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Os lucros da empresa superaram as estimativas de Wall Street em 10 dos últimos 11 trimestres e suas ações dispararam 169 por cento neste ano, o melhor desempenho no índice S&P 500 Health Care.

Esse tipo de geração de riqueza é incomum entre herdeiros bilionários, que têm um total combinado de US$ 1,6 trilhão e representam cerca de um terço do índice da Bloomberg, um ranking diário das 500 pessoas mais ricas do mundo. O restante é composto por bilionários que fizeram a própria fortuna, e seus US$ 3,6 bilhões é mais que o dobro da riqueza herdada dos colegas e aumentam mais rapidamente.

"Teoricamente, a motivação sempre é maior entre fundadores do que entre herdeiros", disse Dominic Samuelson, CEO da Campden Wealth, uma empresa de rede e educação para donos de patrimônios geracionais. "Sem dúvida, é uma exceção que a riqueza seja transmitida sem problemas entre gerações."

Gund e seus irmãos receberam a fortuna do pai, George Gund II, que comprou a patente americana do café descafeinado quando seu dono, um alemão, perdeu-a na Primeira Guerra Mundial. Ele comercializou o processo antes de vender a marca Kaffee Hag à Kellogg no final da década de 1920 por US$ 10 milhões, principalmente em ações. Hoje, a família Gund continua sendo um dos maiores acionistas da fabricante de cereais, com uma participação de 7,5 por cento avaliada em cerca de US$ 1,6 bilhão.

Gund sofre de retinite pigmentosa, uma doença ocular degenerativa, e ficou cego em 1970. Ajudar a buscar uma cura para a cegueira consome grande parte de seu tempo. Ele cofundou a Foundation Fighting Blindness em 1971 e já contribuiu, junto com a esposa, Llura, e sua família, com mais de US$ 200 milhões para a pesquisa sobre curas para doenças da retina que causam cegueira.

Sem indícios

A iluminação baixa do escritório e o som da bengala enquanto ele anda são alguns dos poucos indícios da cegueira. Ele quase nunca usa braile e conta com a ajuda de um antigo assistente para ler propostas de investimento e matérias jornalísticas. Ele disse que, em reuniões, pode julgar as pessoas prestando atenção às palavras e nuances da voz para avaliar um possível empreendimento.

O bilionário também é um bom esquiador e um empresário bem-sucedido, disse David Stern, ex-comissário da NBA, que às vezes vai esquiar com Gund no Colorado, em entrevista por telefone.

"Sempre é impressionante", diz Stern, "que uma pessoa cega faça perguntas sobre notas de rodapé em relatórios anuais".

--Com a colaboração de Caroline Chen e Larry Reibstein