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Medo do Brexit prejudica setor agrícola do Reino Unido

Manisha Jha

12/12/2017 13h52

(Bloomberg) -- Ben Drummond, da terceira geração de produtores agrícolas do oeste da Inglaterra, afirma que o Brexit está criando problemas sem precedentes para seu negócio.

O plano de expandir os 60 hectares de plantações de morango da família em Herefordshire foi suspenso. Após a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, produtores agrícolas como ele não sabem se conseguirão atrair a mão de obra imigrante necessária para a colheita.

"A maior parte das nossas operações é manual porque os morangos precisam ser plantados e colhidos com as mãos", disse ele. "Precisamos de flexibilidade para contratar mão de obra sazonal para colher e embalar as frutas."

Enquanto o Reino Unido tropeça nas negociações comerciais com a UE, os produtores têm pouca clareza sobre como as regras de imigração, as tarifas e os subsídios agrícolas mudarão. Vendedoras de alimentos como a J Sainsbury alertam que se não houver acordo para um tratado de livre comércio pode ocorrer acúmulo de alimentos perecíveis na fronteira. Devido à incerteza em relação ao Brexit e à libra esterlina desvalorizada, os europeus estão deixando de buscar empregos sazonais no Reino Unido, o que obriga os produtores agrícolas a reduzirem planos de expansão ou a buscarem alternativas para ampliar a renda.

Drummond recebeu autorização do governo para expandir seus campos de morangos em 10 por cento nos próximos dois anos, mas resolveu esperar para ter mais clareza em relação à situação dos trabalhadores europeus. Janeiro, mês em que ele inicia o recrutamento para o pico da safra, que vai de maio a junho, pode ser crucial.

"Já estamos vendo um aperto no mercado de trabalho e as pessoas não estão querendo vir", disse Drummond. "A publicidade negativa em torno da migração e a falta de certeza estão afastando esses trabalhadores."

O número de empregados sazonais que voltam para trabalhar nas fazendas britânicas caiu para 16 por cento em setembro, contra 65 por cento no início do ano, segundo a União Nacional dos Fazendeiros do Reino Unido. O déficit médio nos negócios de horticultura já é de 11 por cento neste ano e chegou a 29 por cento em setembro, informou o órgão em relatório.

Os produtores também enfrentam a perspectiva de concorrência feroz da carne bovina e de cordeiro dos EUA e da Nova Zelândia se o Reino Unido for forçado a reduzir as barreiras às importações para fechar tratados de comércio internacionais. Isso se soma à perda dos subsídios agrícolas da UE, com o governo britânico até agora garantindo o preenchimento da lacuna só até 2022.

Donos de terras, arrendatários e cooperativas se preparam para tempos difíceis reduzindo investimentos e, em alguns casos, fazendo um pool de terras para aumentar a eficiência.

"A maioria das pessoas atualmente está apertando os cintos e simplesmente guardando munição", disse Nick Wallis, fazendeiro e diretor-gerente da Ridgeway Grain, uma empresa de armazenamento e processamento de Newbury. "A nível local, os pequenos proprietários de terras agrícolas estão ampliando tamanhos para dividir custos e obter economias de escala."