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Superbactérias podem comer resíduos industriais na China

Daniela Wei e Corinne Gretler

13/12/2017 10h49

(Bloomberg) -- Em um laboratório de Hong Kong, pesquisadores de uma empresa têxtil buscam um ingrediente especial para melhorar o processo de produção da empresa: bactérias.

A TAL Apparel, com fábricas na China continental e no Sudeste Asiático, se juntou à City University para tentar identificar bactérias capazes de limpar grandes quantidades de águas residuais com mais eficiência. Esta é uma das centenas de iniciativas de empresas privadas e estatais da China para corrigir um problema que poderiam acabar reescrevendo o manual da indústria global da moda.

Após décadas de crescimento industrial quase desenfreado que deixou a China com um legado de poluição sem controle, aquíferos menores e água a preços crescentes, o governo está reprimindo grandes usuários industriais e a indústria têxtil está na linha de frente. A fabricação de tecidos ocupa o terceiro lugar na China em relação à quantidade de águas residuais que libera -- 3 bilhões de toneladas por ano -- depois dos setores de químicos e papel, segundo relatório de 2015 do Natural Resources Defense Council, organização sem fins lucrativos com sede em Nova York, que tem um escritório em Pequim.

O preço de garantir um abastecimento de água sustentável na China é mais uma despesa para fábricas já pressionadas pelos custos maiores da terra e da mão de obra. E apesar de a automação e a produção internacional oferecerem um certo respiro, as empresas chinesas estão recorrendo a outras tecnologias para preservar margens operacionais que, mesmo para grandes atores como a Crystal International Group, podem ser inferiores a 10 por cento.

A TAL, que abriu sua primeira fábrica na China continental em 1994, vinha comprando bactérias de outros laboratórios para tratar a água usada para lavar tecidos. O uso de bactérias em vez de produtos químicos para digerir compostos orgânicos pode reduzir a quantidade de sedimentos residuais gerados em até 80 por cento e permitir que 100 por cento da água seja reciclada na planta.

Durante a interrupção de uma semana da produção para o ano-novo chinês, neste ano, as bactérias usadas no sistema da empresa morreram. Por essa razão, a TAL criou uma equipe de pesquisa que está usando sequenciamento de DNA para encontrar uma "superbactéria" mais econômica e eficiente, disse o presidente do conselho da TAL, Harry Lee.

Mas pesquisar e atualizar tecnologias é caro. Muitos fornecedores, com margens magras, não têm dinheiro para isso. Em uma pesquisa de opinião realizada em junho e julho com 85 fabricantes de têxteis chineses pela China Water Risk, mais da metade dos entrevistados afirmaram que investiram pelo menos 2 milhões de yuans em atualização de fábricas -- o equivalente a quase 40 por cento do lucro anual médio de uma pequena empresa têxtil em 2012. Mais de um quarto dos fornecedores afirmou que o esforço havia ampliado os custos operacionais entre 20 por cento e 40 por cento. Catorze por cento sentiram que podem enfrentar o risco de ter que fechar.

No laboratório da TAL, cientistas esperam desenvolver sua superbactéria dentro de dois anos. Se tiverem sucesso, a TAL compartilhará os resultados com outras fabricantes, disse Lee.

"Espero que mais fábricas estejam dispostas a usá-la", disse Lee, "mas é um processo muito lento".