Briga comercial com Canadá é má notícia para jornais dos EUA
(Bloomberg) -- Como se o setor de jornais nos EUA não tivesse problemas suficientes enfrentando décadas de queda no número de leitores e na receita obtida com publicidade, uma disputa comercial cada vez maior com o Canadá pode fazer com que a publicação das edições fique muito mais cara.
Os preços do papel-jornal dispararam desde outubro ao maior patamar em três anos e podem continuar aumentando se, conforme esperado, o governo do presidente Donald Trump aplicar impostos sobre o papel importado do Canadá no próximo mês. O vizinho ao norte é responsável por cerca de três quartos do papel-jornal utilizado nos EUA, do Wall Street Journal aos provedores de notícias locais, como o Idaho Press-Tribune.
O aumento de custo vai pressionar ainda mais os jornais dos EUA, que já têm de lidar com 28 anos consecutivos de declínio da circulação e com o aumento da concorrência da internet. Muitas publicações foram fechadas, porque a receita obtida com publicidade impressa caiu 80 por cento desde 2005. O New York Times gastou US$ 72 milhões no ano passado em papel-jornal, o equivalente a 5 por cento de seus custos operacionais. No entanto, o maior impacto deve ocorrer nas centenas de jornais de menor porte que têm menos recursos financeiros.
"Isso poderia ter um impacto catastrófico no jornalismo comunitário", disse Matt Davison, editor e presidente do Idaho Press-Tribune, que publica seis dias por semana e tem uma circulação de 15.000 exemplares em Nampa, a pouco mais de 30 quilômetros a oeste de Boise.
Uma tonelada de papel-jornal nos EUA custava cerca de US$ 570 até 26 de dezembro, de acordo com a FOEX Indexes, fornecedora de dados globais sobre celulose e papel. Os preços são os mais elevados desde dezembro de 2014 e subiram 4,8 por cento desde 3 de outubro, depois que os EUA começaram a investigar as importações do papel-jornal canadense.
Os preços provavelmente aumentarão ainda mais em 2018, porque é "praticamente uma certeza" que os EUA vão aplicar direitos de compensação preliminares de 15 por cento a 25 por cento, disse Kevin Mason, diretor administrativo da ERA Forest Products Research, que tem sede em Vancouver.
O Canadá, que tem vastas terras florestais, é o maior fabricante mundial de papel-jornal e seu principal cliente é os EUA. No entanto, a North Pacific Paper, uma produtora de Longview, Washington, apresentou uma queixa comercial alegando que o Canadá subsidia sua indústria, o que dá a empresas como a Resolute Forest Products, com sede em Montreal, uma vantagem injusta para preservar sua posição dominante no mercado.
O Departamento de Comércio dos EUA deve anunciar em janeiro se vai impor direitos compensatórios preliminares às importações canadenses de papel não revestido, que é usado em tudo, da publicação de livros ao papel-jornal. Esta é mais recente disputa entre os dois países, que tem uma crescente lista de desavenças comerciais que envolvem também produtos lácteos e madeira serrada.
Aumento 'assassino'
Se os impostos forem aplicados, os exportadores canadenses de papel-jornal terão que aumentar os preços, causando dificuldades imediatas para as pequenas publicações dos EUA que operam com margens finas, disse Paul Boyle, vice-presidente sênior de políticas públicas da News Media Alliance, com sede em Arlington, na Virgínia. O grupo representa quase 2.000 organizações de notícias, do Journal Star em Peoria, Illinois, ao New York Times.
É um aumento "assassino", e a dor dos custos maiores do papel-jornal é agravada pelas usinas dos EUA, que já não conseguem produzir o suficiente para atender à demanda nacional, disse Boyle. "Em alguns casos, jornais menores sairão do mercado."
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