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Turismo usa culinária como ponte entre Israel e Palestina

Nikki Ekstein

24/01/2018 13h04

(Bloomberg) -- Os chefes de Estado israelense e palestino estão cada vez mais relutantes a sentarem-se à mesa de negociações, mas empreendedores pioneiros do setor turístico estão criando uma ponte entre as duas culturas, incentivando os visitantes a compartilharem a comida dos habitantes dos dois lados da fronteira não oficial.

"Queríamos oferecer uma viagem imparcial com visitas aos dois destinos, para que os visitantes possam ter uma ideia verdadeira da realidade do dia-a-dia dos palestinos e israelenses", explica Cara Brown, gerente de produtos alimentares para viagens para pequenos grupos da agência Intrepid Travel. Desde 2015, sua equipe vem pilotando uma versão do novo Real Food Adventure, um tour de nove dias oferecido pela empresa em Israel e nos territórios palestinos; a partir de março, as viagens estarão disponíveis por US$ 3.165 por pessoa quase mensalmente e incluirão paradas em Tel Aviv, Haifa, Nablus e Belém.

"Estamos sempre tentando ampliar os limites", diz Brown, cujo empregador muitas vezes se dedica a fornecer experiências culturais que fogem do lugar-comum. Desta vez, a empresa fez isso literalmente, cruzando a linha pontilhada entre Israel e a Cisjordânia, da qual muitos turistas têm medo de se aproximar. "Queremos promover conversas e conscientização e derrubar barreiras", explica ela, e para isso o que melhor do que a comida?

A experiência

As viagens da Intrepid Travel começam em Tel Aviv, a capital dos restaurantes do Oriente Médio, e terminam em Jerusalém, onde os viajantes visitam alguns lugares religiosos antes de atacar tigelas de hummus em um dos hummusiyas, restaurantes especializados nessa iguaria, da Cidade Velha. Entre essas cidades, o tour leva os hóspedes a uma vinícola israelense perto do deserto de Negev, a uma doceira palestina em Nablus e a uma demonstração de culinária na cidade de Buq'ata, habitada por árabes drusos. Todas as atividades são guiadas, especialmente por líderes de grupos palestinos credenciados pelo Ministério do Turismo israelense (o processo de credenciamento israelense é importante -- exige que os guias passem em testes difíceis e equilibrados para comprovar um conhecimento abrangente). "Queremos expor os viajantes a muitas experiências diferentes", diz Brown. "Isso possibilita que as pessoas formem suas próprias impressões."

Entre as atividades que ela tem mais orgulho de oferecer estão a visita a uma fábrica de tahini em Nablus, uma cidade palestina no norte da Cisjordânia, onde os visitantes podem ver artesãos processando sementes de gergelim para transformá-las na pasta homogênea que está no coração de alguns dos pratos mais famosos da região e a participação em uma aula de culinária na mesma cidade. "A aula de culinária é conduzida por uma divisão local da Slow Food que é completamente administrada por mulheres palestinas", explica Brown. "É um ótimo exemplo de como podemos apoiar as comunidades locais -- e, neste caso, as mulheres --, e isso é fantástico".