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Mercados da Argentina caem diante de velhos inimigos

Ben Bartenstein e William Mathis

30/01/2018 14h04

(Bloomberg) -- Terminou a lua de mel com o presidente argentino, Mauricio Macri ? pelo menos no mercado de câmbio.

O peso bate recordes de baixa em relação ao dólar quase diariamente, em um movimento ainda mais surpreendente porque moedas de países emergentes e desenvolvidos estão avançando em relação à moeda americana. O mercado teme que o banco central esteja sendo pressionado pelo governo Macri a recuar no combate à inflação e dar impulso à economia. O peso caiu 4,9 por cento em relação ao dólar e seu desempenho no mundo inteiro só é melhor do que o da kwanza, de Angola.

É irônico que a suspeita de interferência do governo esteja causando a desvalorização cambial. Há dois anos, Macri assumiu a presidência prometendo acabar com as distorções econômicas ocorridas sob sua antecessora Cristina Fernandez de Kirchner. Embora não haja dúvidas de que a economia e as finanças do país estejam bem melhores agora - com acesso aos mercados de capitais globais, alta da bolsa e ambiente favorável para empresas --, a Argentina prometida aos investidores não se concretizou totalmente.

"Era só beijos e abraços quando ele assumiu o cargo", lembra Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, que tem alocação menor em títulos da dívida argentina em moeda local e maior em títulos denominados em dólar. "Agora é a parte do casamento que dá trabalho e Macri precisa fazer reparos após muitos anos de más decisões de política econômica."

A preocupação com a independência do banco central foi ressaltada na semana passada, quando as autoridades surpreenderam ao cortar os juros pela segunda reunião consecutiva, evidenciando um contraste entre as atitudes brandas e a linguagem mais conservadora do banco central.

O corte inesperado nos juros veio após a Argentina elevar a meta de inflação em 2018 de
10 por cento para 15 por cento, alimentando especulações de que o presidente do banco central, Federico Sturzenegger, sofre pressão do governo para baixar os juros.

Macri afirmou na quinta-feira que o banco central tem "independência absoluta". Em entrevista ao jornal Perfil publicada no domingo, Sturzenegger afirmou que defende um regime de câmbio flutuante e livre. A inflação terminou 2017 ao redor de 25 por cento, rompendo o intervalo da meta, que ia de 12 por cento a 17 por cento.
As preocupações dos investidores estão atingindo o mercado de títulos.

Os títulos da dívida externa argentina são os de pior desempenho entre os mercados emergentes, de acordo com dados compilados pelo JPMorgan Chase.

Não era para ser assim. Há dois anos o país fez um acordo com o bilionário Paul Singer e outros credores e encerrou o impasse em torno do maior calote soberano do mundo, que durou 15 anos. Quando Macri assumiu o cargo, em dezembro de 2015, ele era considerado um reformista que faria de Buenos Aires um bastião do capitalismo e crescimento econômico explosivo. A equipe econômica dele foi montada com veteranos de Wall Street, alguns dos quais argumentaram em público e reservadamente que um peso mais fraco ajudaria a impulsionar as exportações e a economia.

Porém, as coisas não foram tão bem para o governo Macri. Após a aprovação de uma reforma da previdência que reduziria o déficit público, protestos violentos romperam em frente ao Congresso. A inflação não está caindo tão rápido quanto se esperava e os esforços para sanar o déficit público emitindo dívidas denominadas em dólares formam potencialmente uma "combinação tóxica", de acordo com a Capital Economics.

--Com a colaboração de Carolina Millan e Andres R. Martinez