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Manipulação do VIX volta a ser discutida em Wall Street

Nick Baker e Cecile Vannucci

14/02/2018 13h02

(Bloomberg) -- A acusação em si parece dúbia: O VIX, índice que provocou oscilações dramáticas no mercado acionário dos EUA na última semana, está sendo manipulado.

A acusação foi apresentada a autoridades federais por uma fonte anônima e dominou as atenções em Wall Street na terça-feira.

A Cboe Global Markets, dona do VIX, afirma que a ideia é absurda. Muitos profissionais do mercado financeiro concordam. Ainda assim, após a disparada da volatilidade e as três flutuações de mais de 1.000 pontos no Dow Jones na semana passada, há quem se pergunte: E se for verdade?

O setor financeiro global tem um histórico de tentar manipular todo tipo de coisa, incluindo referências para juros e taxas de câmbio. E não é a primeira vez que alguém levanta a possibilidade de manipulação do VIX.

"Sempre existiu essa conversa", disse Jim Strugger, estrategista de derivativos da MKM Partners. Alguns produtos relacionados ao VIX derreteram na semana passada e, sendo assim, "obviamente há mais foco atualmente. Se houver prova de manipulação, seria outro grande golpe para o segmento de volatilidade".

Um estudo acadêmico publicado no ano passado tentou provar que a definição do VIX é sujeita a manipulação. No mês passado, a Cboe multou uma firma de Chicago acusada de submeter lances impróprios em leilões de volatilidade em contratos de petróleo e ações de mercados emergentes. Na terça-feira, o Wall Street Journal noticiou que a Autoridade Reguladora da Indústria Financeira dos EUA (Finra) investiga se preços vinculados ao VIX foram manipulados.

A Cboe, que contratou a Finra para vigiar suas plataformas de negociação, se recusou a comentar, assim como o porta-voz da Finra, Ray Pellecchia.

Há muito em jogo. São US$ 3,5 bilhões em fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) e instrumentos financeiros atrelados ao VIX, de acordo com Eric Balchunas, analista da Bloomberg Intelligence. Centenas de milhares de contratos futuros estão em circulação e são populares entre fundos de hedge e outras instituições.

Outra questão é a estabilidade dos mercados financeiros. Para alguns traders, o pregão dramático de 5 de fevereiro -- quando as ações americanas entraram em queda livre, mas recuperaram rapidamente parte das perdas - pode ter sido influenciado por produtos vinculados ao VIX.

Em carta enviada na segunda-feira aos principais reguladores dos mercados dos EUA, o advogado do acusador anônimo afirmou que formadores de mercado "não éticos" estavam influenciando a direção do VIX sem apostar dinheiro e embolsando centenas de milhões de dólares em lucros todo mês de forma indevida.

Uma falha permite que manipuladores submetam cotações não genuínas para opções do S&P 500 (que determinam o valor do VIX) e assim movam o índice em uma ou outra direção de modo oportunista, segundo a carta. O cliente, que não teve o nome revelado, ocupou "posições sêniores em algumas das maiores firmas de investimento do mundo", de acordo com seu advogado Jason Zuckerman, do escritório Zuckerman Law.

Bill Speth, chefe de pesquisa da Cboe e uma das pessoas que reformulou o VIX em 2003, afirmou na terça-feira que a carta contém "muitos erros e muitos conceitos equivocados".

--Com a colaboração de Nikolaj Gammeltoft Matt Robinson Ben Bain e Joanna Ossinger