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Apetite chinês por carne bovina de qualidade beneficiará Uruguai

Ken Parks

23/02/2018 12h14

(Bloomberg) -- O Uruguai -- famoso pela carne de bois alimentados em pastos e livres de hormônios -- se beneficiará com o apetite dos consumidores chineses por uma carne de melhor qualidade.

Essa é a opinião da Breeders & Packers Uruguay, o maior frigorífico do país, conhecido como BPU. A demanda aumentará também no Sudeste Asiático, ajudando a compensar a estagnação do volume de vendas para mercados ocidentais tradicionais, disse o CEO Daniel de Mattos.

"Todo o crescimento da produção da BPU sem dúvida irá para os mercados asiáticos", disse De Mattos, em entrevista, em seu escritório, no centro de Montevidéu.

A empresa está bem posicionada para tirar proveito do crescimento depois de adquirida pela japonesa NH Foods em 2017. O Uruguai tem mantido o apelo entre os investidores asiáticos pela reputação de produção de carne bovina de alta qualidade, especialmente após o escândalo da carne contaminada no Brasil, o maior exportador mundial, no ano passado. A chinesa Heilongjiang Foresun Group também adquiriu matadouros no Uruguai e na Argentina nos últimos anos.

Os consumidores chineses de cidades costeiras ricas estão comprando cada vez mais cortes de carne no estilo ocidental, disse De Mattos.

Produtos de alto valor

"O mercado chinês está passando por uma mudança na qualidade do produto comprado", disse. "A China não deixou de comprar produtos de menor valor, mas os produtos de valor elevado têm crescido rapidamente."

Ainda assim, a indústria uruguaia enfrenta alguns desafios. As empresas do país pagam alguns dos preços de energia e combustível mais elevados das Américas e a relutância do governo em negociar acordos comerciais custou à indústria da carne bovina US$ 196 milhões em impostos de importação em 2016. Ao mesmo tempo, a rival Argentina está se recuperando lentamente de anos de controles de preços e restrições às exportações, disse De Mattos.

"Minha competição é mais com a Argentina e menos com o Brasil", disse. "Não é só uma questão de quantidade e qualidade. Os custos de produção da Argentina são significativamente menores que os do Uruguai."

O Uruguai embarcou um total recorde de 308.000 bois vivos ao exterior no ano passado, contra 276.000 em 2016 e 210.000 em 2015, segundo dados do governo.

As exportações poderiam aumentar para 450.000 cabeças neste ano, disse De Mattos, que vê uma queda de 8 por cento nos números do abate em relação aos 2,3 milhões de animais processados em 2017 devido ao comércio de gado vivo e à seca que prejudicou as pastagens.

"Haverá uma competição acirrada entre os frigoríficos por matéria-prima", a menos que a seca obrigue os fazendeiros a liquidarem seus rebanhos, disse.

Em 2017, a BPU abateu quase 182.000 cabeças de gado e cerca de 45 por cento dessa produção foi vendida à Ásia.