Duelo entre Embraer e Bombardier esquenta, sob influência de Boeing e Airbus
(Bloomberg) -- O primeiro novo jato de fuselagem estreita da Embraer inicia o serviço comercial na semana que vem, enfrentando a Bombardier nesse segmento. É apenas o prenúncio de uma batalha que se arma entre as gigantes do setor, Boeing e Airbus.
Em jogo, estão possíveis encomendas de Air France-KLM, United Continental Holdings e JetBlue Airways. As campanhas de vendas são desafio importante para Embraer e Bombardier nos esforços para provar o potencial dos aviões de fuselagem estreita de 100 a 150 lugares --um nicho do mercado que Airbus e Boeing praticamente abandonaram para focar em modelos maiores e mais lucrativos.
No entanto, o nicho pode se tornar o novo campo de batalha na concorrência entre as duopolistas do setor aeroespacial. Enquanto a Airbus se prepara para assumir o programa C Series da Bombardier, a Boeing negocia um empreendimento de aviões comerciais com a empresa sediada em São José dos Campos, no interior paulista.
Não se sabe se o realinhamento do mercado e a disputa entre novos modelos --todos com turbinas Pratt & Whitney--vão estimular o interesse das companhias aéreas. O mercado de aviões de 100 assentos "historicamente é um pântano", disse o analista Richard Aboulafia, embora a "Embraer tenha logrado uma façanha impressionante cultivando-o".
Aviões rivais
Para o setor como um todo nos próximos 20 anos, a Bombardier projeta vendas de aproximadamente 6.800 aviões comerciais de fuselagem estreita com 100 a 150 lugares. Alain Bellemare, presidente da companhia sediada em Montreal, repetiu em diversas ocasiões que a estrutura de vendas e cadeia de suprimentos da Airbus vão beneficiar a C Series e sua tecnologia inédita. A gigante europeia prometeu trabalhar com fornecedores para reduzir custos de fabricação, justamente onde a Embraer leva vantagem.
John Slattery, responsável pela divisão de aviões comerciais da Embraer, se recusou a falar sobre as negociações com a Boeing ou possíveis benefícios gerados pelo marketing conjunto dos jatos regionais e de fuselagem estreita da Embraer a clientes de longa data dos 737 da fabricante americana. Ele preferiu focar nos ganhos em autonomia de voo, economia de combustível e poluição sonora desde o lançamento do programa atualizado E2 cinco anos atrás.
A Embraer tenta aumentar as vendas de aviões comerciais em meio à desaceleração das entregas dos E-Jets da geração anterior. Slattery torce por um salto nas vendas quando o primeiro E190-E2 --com capacidade para até 114 passageiros-- estrear no mercado pelas mãos da norueguesa Wideroe Airlines, em 4 de abril.
Segundo Aboulafia, a Airbus pode expandir a C Series para mais de 150 assentos e, "então, usar uma nova linha de corredores duplos para tentar conquistar o mercado médio", para o qual a Boeing planeja uma nova linha de jatos.
Vantagem de custos
A Bombardier gastou mais de US$ 6 bilhões no desenvolvimento da C Series e enfrentou anos de atrasos. No ano passado, a empresa concordou em entregar o controle do dispendioso programa à Airbus sem qualquer custo.
Os novos aviões da Embraer foram desenvolvidos de forma relativamente barata e dentro do prazo, como versões atualizadas de uma linha anterior. Isso significa que as versões E2 dos jatos E190 e E195 podem pressionar os preços dos produtos da rival canadense, de acordo com George Ferguson, analista da Bloomberg Intelligence.
Os designs e táticas de vendas logo serão testados. Grandes companhias aéreas dos EUA e Europa consideram seguir os passos de uma compradora influente, a Delta Air Lines. A empresa sediada em Atlanta tem participação na Air France-KLM e se prepara para receber 75 jatos Bombardier C Series.
A United confirmou reportagem da FlightGlobal de que considera jatos da família E2, além de C Series, Airbus A319neo e Boeing 737 Max 7.
A JetBlue avalia os modelos Embraer E195-E2 e Bombardier CS300 como possíveis substitutos da frota de 60 Embraer E190s.
"A Embraer ainda está na situação curiosa de oferecer o melhor produto para um mercado muito incerto", disse Aboulafia. "A empresa fez um trabalho fantástico tentando estimular o mercado. Talvez funcione."
--Com a colaboração de Michael Sasso e Benjamin D. Katz
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