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Pilhas de alumínio visíveis do espaço viram ouro para trading

Jack Farchy, Andy Hoffman e Mark Burton

20/04/2018 11h48

(Bloomberg) -- -- Há dois anos, uma trading de commodities começou a estocar milhares de toneladas de alumínio perto de uma curva do rio Mississippi, nos arredores de Nova Orleans, nos EUA.

Agora a Castleton Commodities International, a trading apoiada por luminares dos fundos de hedge como Paul Tudor Jones, tem uma verdadeira mina de ouro em meio ao desdobramento da corrida pelo alumínio após as sanções dos EUA à United Company Rusal e as tarifas do presidente Donald Trump ao alumínio.

A Castleton começou a vender seus estoques de alumínio, que atingiram um pico de cerca de 500.000 toneladas, segundo pessoas a par do assunto. O total valeria cerca de US$ 1,5 bilhão pelos preços atuais.

A venda de cerca de metade desse total já foi fechada e a trading está enviando remessas regulares a partir da instalação de Braithwaite, Louisiana, disse uma das pessoas, que pediu para não ser identificada por discutir assuntos privados. Entre os compradores está a Glencore, a maior compradora de alumínio da Rusal, que foi forçada a se virar para cobrir as obrigações e abastecer os clientes após as sanções aplicadas à empresa russa.

A Glencore e a Castleton preferiram não comentar.

O estoque de alumínio é tão grande que os satélites podem vê-lo: imagens do Google Earth mostram uma área perto do rio Mississippi em que o metal é armazenado ordenadamente em pilhas ao ar livre. A situação é incomum, porque os comerciantes normalmente guardam metais em armazéns, mas dessa forma os custos de armazenamento da Castleton são muito menores do que se o metal estivesse guardado em algum dos depósitos registrados em bolsa das proximidades.

A Castleton começou a acumular o metal em 2016, quando os estoques de alumínio eram abundantes e os preços estavam próximos dos menores patamares em vários anos. Era uma aposta de que os compradores de alumínio dos EUA estavam excessivamente complacentes em relação à oferta em meio a fechamentos de fundições locais e de que o mercado acabaria se estreitando, elevando os prêmios -- o preço de um lote de metal físico acima do contrato futuro de referência.

As tradings que financiam estoques de metais normalmente fazem hedge da exposição ao preço dos contratos futuros, mas conseguem ganhar dinheiro se o prêmio sobe. E o prêmio subiu fortemente: em 2016 e 2017, quando a Castleton estava acumulando alumínio, o prêmio nos EUA era negociado bem abaixo de US$ 0,10 por libra-peso (US$ 220 a tonelada). Desde o início deste ano, o valor mais do que dobrou.

A transação certamente teve seus custos: a Castleton precisava pagar para financiar o estoque e também as despesas de hedging na Bolsa de Metais de Londres. E parte do metal estocado pela Castleton foi produzido pela Rusal, disseram pessoas a par do assunto, o que poderia dificultar a venda para as empresas americanas com medo das sanções.

A Castleton, liderada pelo ex-gerente de fundos de hedge William Reed, se concentra principalmente em trading de energia, mas vem ampliando sua divisão de metais desde que contratou o ex-executivo do JPMorgan Chase Peter Sellars para liderá-la, em 2015.

Entre os financiadores da Castleton estão os veteranos de fundos de hedge Tudor Jones, o fundador da Highbridge Capital Management, Glenn Dubin, e Timothy Barakett, fundador do fundo de hedge Atticus Capital.

Entre os demais investidores da Castleton estão famílias que enriqueceram com commodities, como os Oppenheimer, que fundaram a Anglo American há um século; os Belfer, que construíram fortuna com o petróleo; e os Fribourg, que venderam o braço de trading de grãos de sua empresa, a Continental Grain, para a Cargill em 1999.

Josh Steiner, chefe de setores verticais da indústria na Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News, é diretor não-executivo da Castleton.