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Quando acabou a cerveja no Panamá, Ambev soube que ano seria bom

Fabiola Moura e Cristiane Lucchesi

20/04/2018 14h49

(Bloomberg) -- O diretor financeiro da Ambev, Ricardo Rittes, estava numa viagem de negócios quando se viu no meio de uma celebração depois que o Panamá se classificou pela primeira vez para uma Copa do Mundo de futebol, em outubro. A comemoração foi tão intensa que a cerveja acabou.

O feriado de um dia no Panamá foi um sinal encorajador antes da competição, que será realizada de meados de junho a meados de julho. "O panamenho está se sentindo parte de uma festa de 30 dias", disse Rittes em entrevista. Os acionistas da Ambev também.

A Ambev distribuiu R$ 8,5 bilhões em dividendos no último ano fiscal, valor que, se não representou um recorde para a empresa, foi o maior entre as firmas não financeiras com ações negociadas no Brasil. O pagamento pode aumentar neste ano com o torneio internacional de futebol e os primeiros sinais de recuperação no Brasil e na Argentina, segundo analistas da Bloomberg Intelligence.

"Olhando para 2017, é inegável que você tem uma tendência de melhoria,", disse Rittes, 43, em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo, preferindo não informar nenhum número específico esperado para este ano. "Os números não falam, eles gritam."

O fluxo de caixa livre da Ambev, que chegou a R$ 14,7 bilhões no ano passado, após um aumento de 79 por cento, deve avançar para R$ 15,1 bilhões em 2018, segundo dados compilados pela Bloomberg. A empresa tinha pouco mais de R$ 10 bilhões em caixa no fim de 2017, mais de quatro vezes sua dívida total, de R$ 2,55 bilhões.

"Se a gente gera caixa e não tem o que fazer com esse dinheiro -- seja investir no meu negócio, comprar cooler pro ponto de venda -- a gente devolve para o acionista," disse Rittes. "Entre os meus acionistas tem os melhores fundos do mundo, então eu não vou competir com esses fundos pra achar investimentos."

A receita da Ambev cresceu em todos os anos de Copa do Mundo desde 2002, com consumidores em países fãs de futebol e cerveja como Brasil e Argentina recorrendo à cerveja para comemorar as vitórias e se consolar nas derrotas. Neste ano não deve ser diferente e há o impulso adicional da recuperação econômica da América Latina. A empresa promoverá as marcas de cerveja Budweiser e Brahma durante o torneio, além do guaraná Antarctica, que patrocina a seleção brasileira de futebol.

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil foi recorde para os dividendos da Ambev, que chegaram a R$ 12 bilhões. No último ano fiscal, a empresa usou quase US$ 1 bilhão de seu caixa para comprar uma participação adicional de 30 por cento na Tenedora Cervecería Nacional Dominicana, disse Rittes. Mesmo assim, a única companhia no Brasil que ultrapassou a Ambev na distribuição de dividendos no período foi o Itaú Unibanco, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Mas nem tudo é comemoração na Ambev. As perspectivas indicam que os resultados do primeiro trimestre serão mais fracos devido ao Carnaval que foi cedo neste ano, ao verão chuvoso no Brasil e à base elevada de comparação do ano passado, disse Rittes. Com base nessa expectativa, os analistas do Banco Itaú retiraram a Ambev da carteira recomendada, segundo relatório de 6 de abril.

"A recuperação gradual das vendas da Ambev deverá continuar em 2018", disseram Julie Chariell e Carlo Villasenor, analistas da Bloomberg Intelligence, em relatório neste mês. "Há um risco potencial de volatilidade" antes da eleição presidencial de outubro no Brasil, disseram, mas há também uma "oportunidade" com as vendas na Copa do Mundo.

Rittes não está preocupado com a volatilidade de curto prazo. A empresa tem o que ele chama de uma política de gerenciamento holístico de risco, com hedge de moedas, commodities como alumínio e plástico PET, cevada e outros grãos. A cervejaria geralmente usa contratos a termo ou futuros com vencimentos de 10 a 14 meses. A queda das taxas de juros no Brasil e o aumento das taxas nos EUA ajudaram a reduzir os custos de hedge cambial em cerca de R$ 1 bilhão em 2017, disse ele.

"Às vezes as pessoas se perdem no dia a dia," disse Rittes. "Daqui a dez anos, a gente acredita sim que o Brasil vai estar melhor. Agora daqui a um dia, eu não sei nem se vai fazer sol ou se vai chover."

--Com a colaboração de Erick Costa