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Novos ricos da Europa compram florestas em busca de status

Matthias Wabl

08/06/2018 12h53

(Bloomberg) -- Cord Prinzhorn, CEO de uma empresa austríaca de embalagens, é um novo rico europeu. Mas seu último investimento é um clássico dos velhos ricos do Velho Mundo: uma floresta quase do tamanho de Manhattan que pertenceu mais de um século à família Rothschild.

As florestas da Áustria pertenceram durante séculos aos ricos mais antigos de todos, famílias nobres como Habsburgo e Liechtenstein, a Igreja Católica Romana e o governo. Agora, compradores mais conhecidos que fizeram fortuna nas últimas décadas estão comprando-as.

Além de Prinzhorn, alguns dos atuais donos de trechos de florestas e propriedades para caça são o cofundador da Red Bull Dietrich Mateschitz, o presidente da Porsche, Wolfgang Porsche, e Gaston Glock, fabricante da pistola homônima.

Prinzhorn, 45, que tem três filhos, adquiriu a floresta de 5.260 hectares conhecida como Neuhaus por 92 milhões de euros (US$ 108 milhões), a maior aquisição do tipo, e está orgulhoso de um ativo que não é só mais um Picasso ou uma cobertura em Paris.

"Uma floresta não é um iate nem um carro veloz", disse Prinzhorn. "É um recurso natural que rende madeira, peixes e carne ao longo de muitas gerações."

Compradores precisam se comprometer com preservação

Lotes de terras desse tipo raramente chegam ao mercado --talvez uma vez por década. E não basta ser rico para ter uma chance de comprar. Todas as vendas precisam ser aprovadas pelas autoridades distritais locais, o que na prática cria uma forma de barrar membros de famílias reais do Golfo Pérsico ou magnatas da Ucrânia e da Rússia.

Os compradores precisam comprovar que as terras continuarão abertas ao público e dirigir uma empresa sustentável que mantenha as populações da floresta e de caça --veados, faisões, lebres e javalis-- saudáveis.

Essa exclusividade deixa de fora bilionários que adorariam comprar uma faixa de paisagens baroniais. Como ativo, os imóveis sempre são um dos preferidos dos ricos. Investidores da Escandinávia ao Oriente Médio compraram muitas terras cultivadas no Reino Unido, e bilionários chineses acumularam terrenos em Bordeaux.

Para uma nova classe de bilionários que percorrem o planeta, as propriedades rurais não são apenas um investimento familiar e estável. Elas também proporcionam uma dose de nostalgia --ou, nas palavras do sociólogo Michael Woods, "emulam o capital cultural da antiga aristocracia".

Valores dobraram em 10 anos

Florestas não são um ativo fácil de monitorar, mas várias das poucas corretoras especializadas afirmam que os valores das terras dobraram em muitas regiões nos últimos 10 anos diante da busca de investidores ricos por lugares para deixar seu dinheiro. Uma vantagem: você terá um lugar perfeito para expedições de caça com os amigos ou a família.

Sob condições de mercado normais, o retorno anual equivale aproximadamente ao que se esperaria de títulos públicos seguros com nota de crédito alta: cerca de 1%, disse Georg Schöppl, que administra 10% das terras da Áustria --avaliadas em 24 bilhões de euros-- em nome do governo.

Mas a renda anual não é necessariamente o propósito. "Existe uma apreciação no longo prazo e um dividendo emocional que é significativo", disse ele, em entrevista na sede das Florestas Federais Austríacas em Purkersdorf, perto de Viena. "Donos de florestas gostam da natureza e de caçar. Isso é uma grande parte de suas vidas."