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Turismo médico de chinesas limita oferta de vacina em Hong Kong

Bruce Einhorn e Daniela Wei

14/06/2018 12h09

(Bloomberg) -- O turismo médico tem sido um grande negócio para Manna Wang, uma agente de seguros em Shenzhen que ajuda mulheres chinesas a viajar para Hong Kong para tomar uma vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano), que pode causar câncer do colo do útero.

Os negócios têm sido tão bons que o remédio está acabando.

Nos dois anos desde que o Gardasil 9, da Merck & Co., tornou-se disponível em Hong Kong, cerca de 2 milhões de habitantes do continente foram à cidade em busca da vacina, de acordo com a agência de notícias Xinhua. Como o laboratório farmacêutico não consegue acompanhar o ritmo da demanda e algumas clínicas estão recusando pacientes chinesas, habitantes do continente irritados protestaram no escritório local da Merck. O custo da vacina mais do que triplicou para 8.000 dólares de Hong Kong (cerca de US$ 1.000) e as queixas inundaram o órgão de defesa do consumidor da cidade.

"O preço da vacina está uma loucura", disse Wang, que no mês passado parou de fazer reservas para as mulheres do continente em busca da droga. "A vacina é boa, mas não vale esse preço."

A crise da oferta é apenas o mais recente exemplo de como a escala da demanda chinesa tem o poder de atrapalhar a vida em Hong Kong. Em 2013, uma onda de compras por parte dos habitantes do continente provocou a falta de fórmula infantil nas lojas da cidade. No ano anterior, houve escassez de leitos hospitalares, porque muitas mulheres chinesas iam à cidade para dar à luz.

"Hong Kong sempre será afetada pela demanda inesperada dos consumidores chineses", disse Fielding Chen, economista da Bloomberg em Hong Kong. "É sempre difícil prever."

Os acontecimentos que desencadearam a busca pelas vacinas de Hong Kong começaram no último verão boreal, quando a Merck foi vítima de um ataque cibernético que interrompeu a produção de Gardasil 9, que é a melhor vacina contra HPV porque oferece o espectro de proteção mais amplo.

A cidade não é o único lugar da região onde os suprimentos estão apertados. Algumas clínicas na Nova Zelândia e em Cingapura também relataram escassez.

Consequências imprevistas

Mas o aperto na oferta em Hong Kong foi agravado pelo aumento da demanda da China, onde o câncer cervical matou 30.000 mulheres em 2015. A partir do ano seguinte, órgãos reguladores do continente começaram a aprovar várias versões mais antigas e menos eficazes da vacina oferecidas pela Merck e pela GlaxoSmithKline. Essas medidas aumentaram a conscientização sobre os riscos do HPV, e uma consequência imprevista foi que mulheres saíram em busca de Gardasil 9, que estava disponível na vizinha Hong Kong.

As coisas vieram à tona em abril, quando um surto de pedidos para marcar consultas obrigou a Associação de Planejamento Familiar de Hong Kong, apoiada pelo governo, a anunciar que não daria mais vacinas a pessoas que não fossem residentes locais.

"Não conseguimos lidar com todos os telefonemas e e-mails recebidos", disse Michelle Chak, assessora de imprensa da associação.

O Gardasil 9 requer três injeções durante 12 meses. Várias clínicas privadas afirmam que ficaram sem vacina, e por isso algumas pacientes não puderam completar o tratamento.

Para as mulheres preocupadas em conseguir suas doses de Gardasil 9, não há alívio à vista. A Merck, conhecida como MSD fora da América do Norte, projeta que a oferta continuará limitada "ao longo do próximo ano", informou a empresa em comunicado enviado por e-mail. A farmacêutica afirmou que pediu que as clínicas da cidade parem de vacinar novas pacientes.

--Com a colaboração de Emma Ockerman e James Paton.

Repórteres da matéria original: Bruce Einhorn em Hong Kong, beinhorn1@bloomberg.net;Daniela Wei em Hong Kong, jwei74@bloomberg.net