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Harvard discrimina candidatos asiático-americanos, diz processo

Patricia Hurtado, Janelle Lawrence e Sydney Maki

18/06/2018 16h21

(Bloomberg) -- Os próprios pesquisadores da Harvard encontraram evidências estatísticas de que o processo de admissão da universidade discriminava os candidatos asiático-americanos. No entanto, os funcionários responsáveis pelos exames ignoraram os resultados e não tomaram nenhuma medida, de acordo com um grupo que entrou com uma ação judicial por preconceito.

Em 2013, o Escritório de Pesquisa Institucional de Harvard afirmou que os asiático-americanos deveriam representar 43,4 por cento dos candidatos aprovados se fossem julgados exclusivamente por seus méritos acadêmicos, afirmou a organização Students for Fair Admissions em um tribunal federal na sexta-feira.

Os asiático-americanos deveriam ter representado 26 por cento dos alunos, mesmo considerando as preferências da instituição da Ivy League pelos filhos de ex-alunos e pelos atletas e as "avaliações pessoais" mais subjetivas da universidade, concluiu o escritório de Harvard, de acordo com a apresentação judicial do demandante.

A Students for Fair Admissions, que entrou com uma ação em 2014, disse a um juiz federal de Boston na sexta-feira que essas conclusões fazem parte da evidência "irrefutável" de que a universidade "planejou o processo de admissão para alcançar" metas ilegais. A organização diz que os asiático-americanos estão sujeitos ao mesmo tipo de cotas que mantiveram muitos judeus fora das universidades da Ivy League na primeira metade do século 20.

Em sua própria apresentação, Harvard rejeitou a análise de seus próprios pesquisadores por considerá-la "incompleta, preliminar e baseada em dados limitados". A instituição observou que o oponente da ação afirmativa Edward Blum dirige o grupo, que afirma representar pelo menos uma dezena de alunos asiático-americanos que foram rejeitados por Harvard.

"Harvard procura excelência em seus alunos, mas não define a excelência mediante um foco estreito em notas e resultados de provas", afirmou a instituição. "Em vez disso, o processo de admissão de Harvard está pensado para identificar alunos engajados e criativos que serão líderes da próxima geração e estarão preparados para lidar com um mundo complexo e diversificado."

A universidade apontou que a porcentagem de asiático-americanos entre os candidatos aceitos pela universidade aumentou 29 por cento nos últimos dez anos e hoje abrange quase 23 por cento dos alunos. Todos os anos Harvard recebe cerca de 40.000 candidaturas para as 1.600 vagas do primeiro ano.

Peter Arcidiacono, professor da Duke University e perito testemunha dos demandantes, analisou seis anos de dados de admissão. Arcidiacono concluiu que o processo prejudica desproporcionalmente os candidatos asiático-americanos. Harvard classifica os candidatos em uma escala de um a seis -- um é a melhor nota -- com base em critérios como desempenho acadêmico, matérias extracurriculares, esportes, características pessoais e uma nota geral, disse ele.

Arcidiacono concluiu que os candidatos asiático-americanos tiram notas mais altas do que outros grupos raciais e étnicos em muitas medições objetivas -- entre elas as notas nas provas, o rendimento acadêmico e as matérias extracurriculares. Mas os responsáveis pela admissão dão a eles notas mais baixas do que para qualquer outro grupo racial em uma "classificação pessoal", que ele descreveu como uma avaliação "subjetiva".

Um julgamento está marcado para outubro, a menos que o juiz decida de antemão que a evidência justifica uma decisão a favor de um parte ou de outra.

Repórteres da matéria original: Patricia Hurtado em Nova York, pathurtado@bloomberg.net;Janelle Lawrence em Boston, jlawrence62@bloomberg.net;Sydney Maki em Chicago, smaki8@bloomberg.net