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Análise: Quatro cenários possíveis na disputa comercial de EUA e China

Os presidentes dos EUA, Donald Trump (à esq.), e da China, Xi Jinping - Nicolas Asfour/AFP
Os presidentes dos EUA, Donald Trump (à esq.), e da China, Xi Jinping Imagem: Nicolas Asfour/AFP

Jenny Leonard, Andrew Mayeda e Reade Pickert

18/06/2018 11h56

(Bloomberg) -- O presidente americano, Donald Trump, está apostando que Pequim vai ceder primeiro na disputa de tarifas comerciais. Ninguém sabe se ou quando isso vai acontecer.

Trump declarou na sexta-feira (15) que o governo dos EUA vai taxar US$ 50 bilhões em importações da China. A primeira leva de tarifas entra em vigor em 6 de julho e vai cobrir US$ 34 bilhões em produtos. O presidente também ameaçou aumentar o valor em caso de retaliação --o que a China logo prometeu fazer.

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O governo comandado pelo Partido Comunista contra-atacou com uma lista de produtos americanos a serem taxados, incluindo automóveis e itens agrícolas, o que pode criar problemas para o Partido Republicano nos EUA.

O governo americano ainda demonstra interesse em negociar com Pequim.

"Nossa esperança é que isso não leve a uma reação impetuosa da China", afirmou o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, em entrevista ao canal Fox Business Network, após o anúncio das tarifas. "Esperamos que isso leve a mais negociações e esperamos que leve a China a mudar suas práticas."

A intenção dos EUA é punir a China por abuso de direitos de propriedade intelectual. Trump também sinalizou que pretende reduzir o déficit comercial com a China, de US$ 376 bilhões.

"Temos razões muito legítimas para nos preocuparmos com as políticas comerciais da China", disse Susan Rice, que foi conselheira de segurança nacional do ex-presidente Barack Obama, em entrevista à CNN no domingo (17). "Mas a forma de resolver isso não é às custas de trabalhadores, industriais e fazendeiros americanos, entrando em uma guerra comercial."

Muito depende de até onde Trump está disposto a chegar para atingir seus objetivos. Ele já ameaçou taxar mais US$ 100 bilhões em produtos chineses. A lista de produtos que cobririam essa quantia está quase pronta, de acordo com duas pessoas com conhecimento do trabalho. Isso significa que o conflito pode se intensificar em pouco tempo. O governo americano informou que está elaborando restrições sobre investimentos chineses e que divulgará as propostas em 30 de junho.

"A pergunta é se o governo Trump realmente quer negociar com a China ou apenas tirar sangue e somente depois disso iniciar negociações sérias com os chineses", disse Scott Kennedy, vice-diretor para a China no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.Estes são os quatro cenários que podem se concretizar nas próximas semanas ou em meses:

1. Os dois lados recuam

Há menos de um mês, isso parecia possível. Mas uma trégua no curto prazo agora parece improvável. Na sexta-feira, um representante do alto escalão do governo americano disse que seu país espera mudanças estruturais no modo que a China lida com tecnologia, parando de obrigar empresas americanas a transferir know-how.

Pequim sinalizou que não aceitará alterar significativamente o plano Made in China 2025, que define o que a China fará para liderar segmentos emergentes, como inteligência artificial.

2. A China cede primeiro

O presidente chinês, Xi Jinping, defendeu a ordem comercial global vigente. Seu governo tenta engendrar uma desaceleração gradual da economia dando maior ênfase ao gasto do consumidor. Uma guerra comercial poderia atrapalhar sua cuidadosa gestão da economia.

No melhor cenário possível para os EUA, a China cederia em questões de tecnologia e abriria seu mercado para mais produtos e serviços vindos dos EUA.

3. Os EUA cedem primeiro

É bem possível que a China aposte que Trump está blefando. Os chineses sabem o quanto o presidente americano aprecia a alta das Bolsas e a força da economia americana.

Os produtos que a China escolheu para taxar incluem soja, sorgo e algodão. A medida poderia prejudicar regiões rurais que votaram em peso em Trump na eleição presidencial de 2016.

4. Guerra comercial de fato

Há motivos para crer que a questão não será resolvida tão cedo e até possa piorar rapidamente. Nenhum lado quer ser considerado fraco. Trump se elegeu conquistando áreas duramente atingidas pela globalização e precisa agradar a base antes das eleições ao Congresso, já em novembro.

Do outro lado, transformar a China em líder global em tecnologia é parte essencial do plano estratégico de longo prazo de Xi.

Se Trump insistir em mudanças sistêmicas no modelo econômico chinês, o mundo poderá enfrentar um longo período de tensão entre os dois países.

"Uma guerra comercial pode se dar na forma de uma rusga ou de uma batalha, com muitos danos colaterais para trabalhadores, agricultores e consumidores americanos", disse Michael Smart, diretor-gerente da consultoria Rock Creek Global Advisors, em Washington, que já foi diretor de comércio internacional no Conselho de Segurança Nacional.

"Ainda não chegamos lá, mas dá medo, porque aparentemente estamos a caminho de um grande conflito e não dá para enxergar uma via de recuo."

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