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Influenciadores cobram US$ 105.000 por tuíte sobre criptomoedas

Justina Lee

26/06/2018 13h52

(Bloomberg) -- De dia, Paul Angus é engenheiro. De noite, ele é Cryptonomatron: um comentarista das mais recentes ofertas iniciais de moedas que tem mais de 8.000 seguidores no YouTube. O alter ego on-line de Scot, 43, é basicamente um trabalho feito por amor, mas que muitas vezes vem com um benefício extra: pagamentos em tokens digitais.

Isso se deve ao próspero, porém obscuro, mundo das "campanhas de recompensas" das criptomoedas, em que influenciadores das redes sociais são pagos para promover ICOs pelos empreendedores (e, em alguns casos, golpistas) responsáveis pelas ofertas. A prática não é nova -- a celebridade do mundo das criptomoedas John McAfee tem atuado como promoter contratado e afirmou em março que cobrava US$ 105.000 por tuíte. Mas os elogios estão ganhando ainda mais importância na venda de ICOs depois que gigantes da internet como Google, Facebook e Twitter decidiram proibir anúncios de criptomoedas neste ano.

A proliferação de campanhas de recompensas é uma das razões pelas quais as ICOs estão levantando recursos a um ritmo recorde, apesar das proibições aos anúncios e da forte desvalorização de moedas virtuais como o bitcoin neste ano. Embora os defensores das campanhas afirmem que elas são uma forma barata de construir uma marca, os críticos veem um terreno fértil para exageros e desinformação. Em jurisdições nas quais as ICOs são consideradas títulos, os promoters -- também conhecidos como "caçadores de recompensas" -- correm o risco inclusive de entrarem em conflito com as autoridades por atuarem como corretores não registrados.

"Quando ficar claro que os resultados financeiros podem ser manipulados não apenas pela negociação, mas pela criação de percepções por meio das redes sociais, os órgãos reguladores assumirão uma postura bastante dura", disse Lex Sokolin, diretor global de estratégia de tecnologia financeira da Autonomous Research em Londres.

Alguns promoters já estão sentindo a pressão. McAfee, o pioneiro dos softwares antivírus cujo passado duvidoso inclui problemas com a polícia em Belize e uma tentativa malsucedida de se tornar candidato presidencial pelo Partido Libertário dos EUA em 2016, disse em um tuíte a seus mais de 820.000 seguidores, em 19 de junho, que deixou de trabalhar com ICOs ou de recomendá-las após receber "ameaças" não especificadas da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês).

Angus, ou Cryptonomatron, parece ser um analista, de acordo com os padrões do mundo das criptomoedas, destrinchando os prós e contras de cada ICO em seus vídeos. Ele disse que já recebeu recompensas de cerca de US$ 4.000 e US$ 5.000 com base nos valores iniciais dos tokens, e que o dinheiro não influencia suas críticas.

Ele também incentiva os espectadores a fazerem suas próprias pesquisas.

"Pode haver gente que entra no jogo com base apenas nos meus vídeos -- mas espero que não seja o caso", disse. "Ninguém deveria escutar os YouTubers."