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Tuítes de Trump sobre comércio afetam apenas uma classe de ativo

Luke Kawa

19/07/2018 14h39

(Bloomberg) -- Houve um tempo em que os tuítes de Donald Trump provocavam mais nervosismo no mercado do que um teste nuclear norte-coreano, com ataques direcionados a empresas que desencadeavam quedas nas ações.

Agora, os tuítes do presidente dos EUA sobre grandes mudanças no comércio internacional algumas vezes causam descontentamento entre os líderes mundiais -- mas, para os traders, eles só são importantes para quem está especulando com a soja.

"Praticamente todas as semanas os mercados precisam digerir uma retórica comercial mais dura de membros do governo dos EUA e da conta do presidente no Twitter", escreveram James Weldon e Charles Himmelberg, estrategistas do Goldman Sachs, em nota na quinta-feira. "Encontramos evidências de que os tuítes do presidente Trump sobre o comércio exterior têm muito pouca importância para os principais mercados."

A dupla não encontrou nenhuma "relação óbvia" entre as menções das palavras "comércio" e "tarifa" pelo presidente e o Cboe Volatility Index. O índice de volatilidade, conhecido como VIX, monitora as expectativas dos traders para as oscilações implícitas do S&P 500 Index do mês seguinte e é frequentemente chamado de "indicador do medo" de Wall Street porque oscila na direção inversa das ações dos EUA.

"Os tuítes do presidente Trump não são estatisticamente significativos", disseram os estrategistas do Goldman.

A conclusão deles representa uma grande mudança para a conta @realDonaldTrump. Quando foi eleito presidente, o comentário de Trump de que os EUA deveriam "cancelar a encomenda" de um novo Air Force One que estava sendo construído pela Boeing porque "os custos estão fora de controle" provocou uma queda rápida das ações da gigante aeroespacial durante a sessão anterior à abertura do mercado.

Em maio de 2017, depois que ele assumiu o cargo, uma análise do Deutsche Bank concluiu que os traders deveriam "seguir" o presidente quando seus tuítes movimentavam o mercado cambial porque qualquer tendência iniciada provavelmente se manteria. E em 2 de abril, o tuíte de Trump em que prometeu mudar os termos das transações do serviço de correio dos EUA com a Amazon.com contribuiu para a maior queda em um único dia das ações da gigante do comércio eletrônico desde fevereiro de 2016.

Importância para a soja

Segundo os estrategistas do Goldman, contudo, a situação mudou.

"O único ativo sobre o qual os tuítes de Trump relacionados ao comércio parecem ter alguma influência é a soja", escreveram Weldon e Himmelberg. "O resultado bate com a opinião da nossa equipe de commodities de que as tensões comerciais devem ter pouco impacto sobre os mercados de commodities, sendo a única exceção a soja, mercado no qual será impossível redirecionar completamente a oferta se a China aplicar tarifas à soja americana."

Ou seja, a lei dos rendimentos decrescentes pode se aplicar ao Twitter do presidente no tocante ao comércio exterior, assunto que, segundo os investidores, é o maior risco de cauda de consenso para os mercados desde a crise da dívida soberana europeia, em julho de 2012.

"Isso não quer dizer que os mercados não estejam precificando o risco comercial ou que as tensões comerciais não sejam motivo para preocupação", escreveram os estrategistas do Goldman. "Mas nossas descobertas sugerem que os mercados globais provavelmente não fixarão o preço do risco crescente de uma guerra comercial conferindo o Twitter."